sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Resenha do livro "A Educação Sexual da Criança: subsídios teóricos e Propostas para uma abordagem da sexualidade para além da transversalidade"







EDUCAÇÃO SEXUAL EMANCIPATÓRIA, UMA CONQUISTA ATRAVÉS DA                CONSCIÊNCIA CRÍTICA
Alessandra Romagnani
Acadêmica do curso de Pedagogia
 Faculdade Dom Bosco
Integrante do GEPES - PET -  MEC
Orientadora: Profª Dra Cláudia Bonfim 

NUNES, César: SILVA, Edna. A educação sexual da criança: Subsídios Teóricos e Propostas Práticas para uma Abordagem da Sexualidade para além da Transversalidade. Campinas, São Paulo: Autores Associados, 2000.  

            César Nunes é Doutor em Filosofia e Historia da Educação – Unicamp, Professor de Filosofia  da Educação da Unicamp, Coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisas  PAIDÉIA. Presidente da ABRADES (Associação Brasileira de Educadores Sexuais). Autores de vários livros: Aprendendo filosofia e Desvendando a sexualidade. Edna Silva, Pedagoga, Especialista em Sexualidade Infantil e Adolescente;  Mestre e Doutora em Educação pela UNICAMP, Professora de Educação Sexual no Curso de Pedagogia da UDESC e autora de diversos livros em Educação Sexual, dentre eles Sexualidade(s) Adolescente(s).
            A obra aborda a sexualidade infantil de uma maneira a superar tabus e o censo comum e acrescentar reflexões pedagógicas sobre o assunto. Esta dividida em três capítulos, o primeiro é intitulado de: “Elementos históricos e sociais para compreender a sexualidade da criança e a descoberta psicopedagógica da infância; o segundo, denominado “A sexualidade da criança: fundamentos teóricos e pedagógicos e os parâmetros curriculares nacionais”; o último “Subsídios teóricos e propostas didáticas para uma atuação pedagógica emancipatória frente às manifestações da sexualidade da criança na escola.”
            Este estudo tem como prioridade sensibilizar professores e educadores, sobre as especificidades da criança, sua singularidade, originalidade, peculiaridades e seus diversos significados, dentro do contexto social. Torna-se relevante essa abordagem, porque, nossa cultura não tem o costume de valorizar as expressões e propriedades da criança, tornando-a uma incógnita diante de  nossa maneira simplista de compreendê-la.
            Parece não haver identidade no ser infantil, pois ela esta relacionada à identidade profissional, forçando a criança a decisões e posturas do mundo adulto, ”exigindo das crianças um comportamento que reflita supostas maturidades e seguranças, muitas vezes exigindo destas o que os próprios adultos ainda não alcançaram.”(NUNES e SILVA,2000,p.12)
            Contudo, a infância acontece mesmo sem que dispensemos a ela a atenção necessária, trata-se da fase mais importante da vida do ser humano, pois é nela que ocorrem as primeiras descobertas do mundo, que envolve as relações interpessoais e a maneira que elas são vivenciadas.
            Ao analisar pedagogicamente o estudo da infância, as ciências da educação, tem feito um grande esforço em compreender esse universo, a partir do momento que reconheceu que a infância é algo que vai além de uma identificação etária, mas sim, “uma das mais importantes temáticas de investigação da Educação, Psicanálise e Pediatria [... ]” (NUNES e SILVA, 2000,p.11)  
            Assim passamos a compreender a infância como parte da identidade humana, onde o adulto deve participar de maneira, que venha a contribuir  positivamente para esse desenvolvimento. Reconhecendo que esse é processual e contínuo, sendo que conhecê-lo  é compreender a criança e a si mesmo assim como  respeitá-la, corresponde a uma demonstração de civilidade.
            Diante desse contexto, que levou a diversos estudos sobre a identidade da criança é preciso abordar uma questão sempre muito polêmica em nossa tradição educacional, a Educação Sexual.
            Durante a história da escola pública e privada a tentativa de realizar uma Educação Sexual, passou por diferentes compreensões e abordagens.        E a Educação Sexual Emancipatória vem com uma proposta de contraposição a estas abordagens citadas anteriormente, Nunes e Silva (2000,p.17) a definem como ”uma intervenção institucional significativa na escola”. Uma forma de contribuir para uma “compreensão plena, integral, histórica, ética, estética e psicossexualmente significativa e consciente das potencialidades sexuais humanas e sua vivência subjetiva e socialmente responsável e realizadora”.
            A escola é entendida como a instituição social que possibilitará a práxis, onde a Educação Sexual Emancipatória irá contribuir para a humanização da sexualidade, a emancipação em relação ao  mundo do trabalho e cultura. Com a articulação entre escola e família, centrados na transformação, com o intuito de construir ações, saberes e habilidades, a cerca da sexualidade humana, tornando-a plena, libertadora e emancipatória.  
            Ao pensar em educação é preciso relacionar ao conceito de infância, pois foi ao longo da história que a pedagogia destinada à educação de crianças foi sendo construída. A infância sempre esteve ligada aos modelos de sociedade e não ocorreu uma limitação definitiva entre o mundo adulto do mundo infantil. Os diferentes modelos econômicos  e sociais sustentaram em diferentes épocas, a concepção de infância. E a  sua compreensão hoje, tem a  base nos modelos hegemônicos e sustentam os valores conceituais, filosóficos e pedagógicos atualmente.
            Existem poucos documentos sobre a infância entre a idade média até o séc XVII, devido ao fato desse período não ter muita importância, pois a mortalidade infantil acentuada é considerada normal, assim os adultos não se apegavam às crianças. Ao final deste séc, começou a esboçar uma separação entre o mundo adulto e o infantil.
            Contudo, foi com os estudos de Freud no séc XIX, que   essa separação se acentuou e podê-se dar maior evidencia aos estudos e a existência da adolescência e da sexualidade infantil. Período que Airès denomina de “século da infância”, porque alguns jogos e brincadeiras foram sendo reestruturados, dentro das necessidades da sociedade burguesa, sendo alguns cultivados até hoje. Onde a escola assume um papel de controle e segregação, esta situação dualista do ensino marca o início de toda educação moderna.   
            Atualmente algumas ciências se ocupam de desvendar e entender os problemas da infância, pois o que se compreende por infância hoje, é o resultado dessas construções históricas e sociais.
            No Brasil o primeiro passo significativo para incluir o tema sexualidade nas escolas, foi através dos Parâmetros Curriculares Nacionais. No entanto, foi classificado como conteúdo transversal, podendo ser trabalhado em todas as disciplinas, dentro de uma orientação sexual. Fato que diminui a qualidade da abordagem, pois pode tornar-se somente uma discussão no âmbito do senso comum, como reprodução de preconceitos.
            A proposta para vencer estereótipos, proporcionar uma consciência crítica e ética, sobre a sexualidade é a Educação Sexual Emancipatória. Onde a sexualidade é a dimensão que irá humanizar e dar significado ao sexo e as relações. Essa noção é pertinente porque para abordar este tema na escola é preciso uma concepção científica e humanista, superando o senso comum.
            Para isso dois autores Freud e Piaget, auxiliam de maneira científica, as ações  do educador no tocante as manifestações da sexualidade infantil. Este reconheceu a criança como um ser complexo e singular, que desenvolve e manifesta a sexualidade desde o nascimento, passando por cinco fases; oral, anal, fálica, latência e genital. E Piaget  relaciona o desenvolvimento cognitivo , afetivo e sensório motor, com as relações com a mãe,  família e o ambiente social, sendo um excelente “instrumento de qualificação pedagógica”.
            Portanto, não há como trabalhar a educação infantil, ignorando a sexualidade e suas manifestações, elas são partes constitutivas do desenvolvimento da criança e estarão sempre presentes na dinâmica do ensino aprendizagem. Por isso a importância de uma educação sexual, que reeduque a própria sexualidade, considere a curiosidade e ansiedade das crianças, onde a família  e educadores estejam envolvidos pelo mesmo ideal e as manifestações da sexualidade não sejam repreendidas com autoritarismo, mas sim compreendidas através do diálogo e do afeto.”Só pode falar da sexualidade humana aqueles que sabem nutrir esperanças de amor, em suas plurívocas manifestações.”
            Para embasar suas idéias os autores recorreram a Philippe Ariès, como referência de concepção de infância ligada aos modelos de sociedade; Foucault como base para as relações entre o saber e poder sobre a sexualidade; Freud  com o desenvolvimento psicossexual,  sua indelével contribuição para a compreensão da sexualidade humana; Piaget como referência em superar o senso comum, através dos estágios evolutivos, cognitivo, afetivo e comportamental da criança, entre outros autores da área da sexualidade.
            Trata-se de um texto bem estruturado, onde os autores através de uma  linguagem acessível, procuram situar o leitor historicamente na temática, sendo impossível ficar indiferente aos argumentos. Ao longo da narrativa é possível perceber a articulação inteligente e sutil, que delineia o caminho para  chegar ao objetivo proposto pelo livro. Ou seja, uma leitura que leva a reflexão, interação e interferência do leitor constantemente, tornando-se conhecimento vivo.
            Sendo a sexualidade algo presente em nossas vidas desde o nascimento, e constituída pelas relações que a circundam, nada mais apropriado do que indicar esta leitura a todos que se interessam em conhecer o assunto ou necessitam se aprofundar na temática. No entanto, cabe ressaltar a contribuição significativa que ela trará aos pais e educadores, a todos aqueles que estão envolvidos com a área da educação. Pois é um instrumento valioso, como apoio metodológico e científico para superar o pensamento hegemônico, que mantêm o estudo da sexualidade somente no âmbito médico biologista, apontando novas perspectivas para tratar do assunto de maneira responsável, humana, dentro de uma relação dialógica, que venha a corresponder aos pressupostos de  uma Educação Sexual Emancipatória.  

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