segunda-feira, 27 de junho de 2011

Reunião com a representante do setor de educação da Unesco em São Paulo!

Seletos pesquisadores da sexualidade e educação sexual foram convidados para contribuir com a reelaboração do material que a UNESCO utiliza em outros países para adaptação à realidade brasileira. A reunião aconteceu neste dia 20 de junho de 2011, na Fundação Carlos Chagas em São Paulo. 


Abaixo a professora doutora Cláudia Bonfim, representando o Grupo de Pesquisa GEPES, a faculdade Dom Bosco e a UNICAMP com Maria Rebeca Otero Gomes representante do setor de Educação da Unesco no Brasil.



CONTRIBUIÇÕES DA EDUCAÇÃO FÍSICA PARA EDUCAÇÃO SEXUAL ESCOLAR

SANTOS, André de Souza
BUSQUIM, Ana Maria de Oliveira
CEZARIO, Cintia Silva
PETRUS, Marissa Cacciolari
SILVA, Roger da
Acadêmicos da Faculdade de Ensino Superior Dom Bosco
Membros do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação e Sexualidade  - GEPES
Bolsistas do GEPES- PET-MEC-FDB
BONFIM, Cláudia
Coordenadora   do GEPES



Resumo: A presente pesquisa é qualitativa de caráter bibliográfico. O Objetivo principal foi apontar as contribuições da educação física para o desenvolvimento de uma educação sexual escolar emancipatória. O referencial teórico pauta-se especialmente nos estudos de Nunes (2000), Altmann (1998), Bonfim (2011). Mesmo com  estudo em andamento, Após pode-se afirmar que a educação física se apresenta como um campo privilegiado que apresenta possibilidades significativas para a superação de preconceitos, dogmas e tabus existentes na sociedade, porém para que isso se efetive na prática é necessário que a formação docente proporcione uma visão mais ampla da sexualidade e orientações pedagógicas que dê subsídios teóricos e práticos para o desenvolvimento de uma educação sexual escolar.

Palavras-chave: Educação Física, Educação Sexual, Consciência Corporal

Introdução

Durante muito tempo, o foco da educação física era o corpo e a prática esportiva nas aulas sempre privilegiou os meninos pelo caráter competitivo e o excesso de contato físico. Já para as meninas havia restrições e preconceitos acreditando que o esporte contradizia com sua feminilidade, trazendo rejeição das mesmas, quanto à prática esportiva. Neste momento histórico a educação física acabava por disseminar preconceitos de gênero, não contribuindo para uma educação sexual emancipatória, mas consolidando uma visão discriminatória.
Considerando Altmann (1998)  a linguagem, os uniformes, os refrões utilizados no esporte sempre reproduziram e constituíram um modelo ideal de masculinidade do esporte, associados à imagem de força, violência e vitória. O que excluía não apenas as meninas da prática esportiva, como também aqueles homens cuja imagem não estivesse associada à este esteriótipo de masculinidade, produzindo então identidades esportivas e de gênero, e inclusive, determinando a forma como se dava os relacionamentos entre os jogadores.
A partir da década de 1990, com a criação da nova LDB 9394/96 e com os Parâmetros Curriculares Nacionais, a educação física passa, ter pelo menos teoricamente,  uma visão aberta e voltada para a integração de meninos e meninas sem distinção nas práticas dos esportes e de todos os conteúdos a serem apresentados pela disciplina, embora saibamos que a escola e mais especificamente muitos professores ainda não incorporaram de fato, na práxis, essa nova visão.  E há que se ressaltar que, está integração, por si só, não é capaz de dissolver os preconceitos existentes, e muito menos, considerar ainda o fato de se permitir representações masculinas e femininas integradamente, ou mesmo isoladamente em práticas esportivas antes consideradas basicamente masculinas, não significa dizer que a educação física desenvolve um trabalho de educação sexual. Pois, as relações de gênero, são apenas uma das questões, diante das inúmeras temáticas referentes à sexualidade. Mesmo esta seja uma temática importante, não é suficiente para dar conta da amplitude e complexidade que a educação sexual necessita para formar sujeitos conscientes em relação à vivência da sexualidade.
Diante da transversalidade a temática da sexualidade passa a ser responsabilidade de todas as disciplinas desenvolver um trabalho de educação sexual no ambiente escolas. Sabe-se que muito antes disso, a sexualidade já era trabalhada na escola, mas numa vertente reducionista, médico-higienista-biologista, e isso se dava quase sempre em uma única disciplina, as Ciências Biológicas. Na tentativa de superar essa visão genitalista, parte-se da premissa que a Educação Física seja uma disciplina que ao lidar com o corpo, apresenta-se intrinsecamente  ligada às questões da sexualidade, e pode contribuir de maneira significativa e ampla neste sentido, se além da consciência corporal, buscar o desenvolvimento do ser humano na sua totalidade, integrando corpo e mente.

Objetivo Geral
Diante desta contextualização inicial o objetivo central foi buscar compreender de que forma é possível através dos conteúdos estruturantes da educação física desenvolver um trabalho que busque uma educação sexual crítica capaz de oferecer reflexões que levem o aluno a construir uma nova visão da sexualidade, superando a ênfase biológica e reprodutiva valorizando a interação entre corpo e mente, e buscando uma vivência prazerosa e qualitativa da sexualidade, sem preconceitos e tabus.

Problema

            Os pressupostos inicialmente apresentados levantam necessariamente dois questionamentos neste estudo: Como é possível através dos conteúdos estruturantes da educação física desenvolver um trabalho de educação sexual emancipatória? Que será nossa questão central, a qual nos abre  uma questão secundária: Mesmo sendo a educação física um campo de possibilidades para a formação de consciências  críticas em relação à compreensão da sexualidade, por que os professores de educação física ainda não incorporam em sua práxis um trabalho de educação sexual emancipatória?

Educação Física: um campo privilegiado para a abordagem da educação sexual

A sexualidade faz parte da vida e está ligada ao desenvolvimento global do indivíduo, constituindo um dos elementos da personalidade. De alguma forma os relacionamentos, o equilíbrio emocional e a manifestação de sentimentos do indivíduo dependem de uma boa evolução da sexualidade, durante as etapas da infância à adolescência.
A identidade sexual é um dos elementos fundamentais da identidade geral que é delineada desde os primeiros momentos da vida e definida na adolescência compreendendo a interação com os pais, fatores morais, culturais, sociais, religiosos entre outros. 
Identidade de gênero é a convicção íntima de cada um quanto ao sexo a que pertence (masculino- feminino), independente da forma do corpo. Papel de gênero é a expressão da feminilidade ou masculinidade de cada um, de acordo com as normas sociais que o indivíduo interioriza no processo de socialização e refere-se ao desempenho do comportamento específico de acordo com o sexo biológico.
Por entendermos como Bonfim (Online), que a disciplina de Educação Física seja uma das mais privilegiadas para se trabalhar a educação sexual na escola, acreditamos que o ponto de partida da disciplina em questão é amenizar a dicotomia existente na educação tradicional. Esta se preocupa apenas com o pensamento dos alunos, sem considerar os movimentos corporais, silenciando as manifestações da sexualidade.
[...] a escola como um todo é um campo privilegiado para desenvolver a consciência corporal, e a Educação Física em especial, oferece um campo privilegiado para trabalhar as manifestações da sexualidade das crianças por ser uma área que está, constantemente, voltada para o domínio do corpo, contribuindo assim, para a problematização e desconstrução dos conceitos de corpo, gênero e sexualidade hegemônicos no contexto escolar especialmente no que diz respeito a valores. A Educação Física em particular, sendo uma disciplina que trabalha o sujeito em sua totalidade, se for ministrada de maneira crítica pode contribuir significativamente para a formação de consciências críticas e para a superação da visão social reducionista e cultural hegemônica de corpo. Daí, a urgente necessidade de se falar de ética corporal, buscar desenvolver valores, capacidade de discernimento, espírito crítico, reflexões face às atitudes e comportamentos. (BONFIM, Online, 2010).

Mas, isto ainda não se consolida na prática da educação física, e se deve à não formação do professor para atuar no campo da educação sexual. Bonfim (2009) afirma que na formação do professor, nos cursos de licenciatura em geral, não se encontram disciplinas específicas sobre educação sexual, o enfoque quando se dá aos estudos da sexualidade são sempre biológicos, e vez ou outra, dentro de alguma disciplina o tema é abordado, mas de maneira reducionista e insuficiente para dar ferramentas suficientes ao futuro docente para que possa atuar sobre uma temática tão ampla e delicada e isso ocorre em todos os cursos de formação docente, não apenas na educação física. Em relação à qual há que se ressaltar que ainda tem pouca literatura científica, onde seja claramente feita a relação da mesma com a sexualidade.
No entanto, a Educação Física escolar através dos seus conteúdos estruturantes pode levar conhecimentos de uma forma espontânea e descontraída. Vasconcelos  (1971, p. 3), afirma que:
Educação sexual é poder abrir possibilidades, dar informações sobre os aspectos fisiológicos da sexualidade, mas principalmente informar sobre as suas interpretações culturais e suas possibilidades significativas,  permitindo  uma tomada lúcida de consciência. É dar condições para o desenvolvimento contínuo de uma sensibilidade criativa em seu relacionamento pessoal.

E sendo, “a expressão corporal [...] expressão integral e harmônica do corpo, compreendido como um todo, sem fragmentações [...] compreendida como sentimentos e emoções do ser humano traduzidas por meio de seus estados de ânimo” (GARCIA & HASS, 2002, p.11).
É possível afirmar que, a educação sexual está de fato presente no contexto da educação física, pois  a expressão corporal pode contribuir de maneira significativa para o desenvolvimento da sexualidade como um todo, além da quebra de preconceitos existentes. A visão deturpada relativa à sexualidade inibe a participação dos alunos entre si. O objetivo é a superação desses bloqueios para que os alunos possam se sentir a vontade para explorar o seu corpo em sua totalidade em toda prática educativa.
Na educação infantil ao desenvolver a consciência corporal da criança mesmo de forma indireta estará contribuindo para sua educação sexual.  Há também, alguns conteúdos evidenciam a parte do corpo dos órgãos sexuais, assim como na Ginástica Artística. O que ajuda  a  entender e viver a sexualidade de maneira saudável, despertando a consciência dos alunos para uma visão natural diante das manifestações sexuais.
Dentre os componentes desenvolvidos na Educação Física escolar, a expressão corporal pode ser considerada fundamental, despertando e potencializando o desenvolvimento humano, tanto na dimensão individualista, quanto na dimensão coletiva, possibilitando ao indivíduo a descoberta de si e do outro, levando-o a refletir e compreender melhor seu corpo e todas as suas potencialidades. Freire, nos convoca há desenvolver no ambiente escolar uma educação de corpo inteiro, e aponta a necessidade do corpo todo ser matriculado na escola, o que nos pressupõe que em sala de aula as manifestações corporais do aluno ainda são desconsideradas.
Louro (1999, p.21) confirma esse pressuposto ao se referir ao “corpo escolarizado” ou “corpo disciplinado pela escola”, onde “mãos, olhos e ouvidos estão adestrados para tarefas intelectuais, mas possivelmente desatentos ou desajeitados para outras tantas”.
E diante dessa negação do corpo em sala de aula, aumenta-se ainda mais a responsabilidade e a necessidade de se trabalhar uma educação sexual emancipatória na educação física escolar. Bregolato ( ano, p.37) afirma que a “[...] educação física tem na expressão corporal sua justificativa enquanto área do conhecimento que pode contribuir para mudanças de comportamento, propondo atividades que envolvam a aproximação corporal de forma natural e espontânea” [...].
Outros conteúdos trabalhados na educação física, como dança, são de grande importância na formação do aluno, desenvolvendo a expressão corporal e coordenação motora, além de suma contribuição na integração dos alunos, derrubando barreiras no âmbito da sexualidade, promovendo a aproximação corporal sem o pensamento malicioso, gestos simples como dar as mãos, entrelaçar os braços e segurar na cintura são movimentos básicos da dança e promovem uma grande interação entre meninos e meninas.

Educação Física, Sexualidade e Integração

Devemos enaltecer nessa junção de Educação Sexual e Educação Física, uma melhora na qualidade de vida, citando o exercício bem conduzido, como uma fonte não apenas de integração e desinibição social, mas também utilizado como regulador de nosso próprio corpo.
Nas meninas, por exemplo, a prática desenvolvida de forma adequada, pode atuar como regulador do ciclo menstrual, podendo resultar em melhora para quem na menstruação tem cólica, dor de cabeça, inchaços, dores lombares etc.
Como podemos perceber, diante do estudo, encontramos na totalidade da educação física um vasto leque de opções para a busca de uma sexualidade consciente e integradora. As danças, as lutas, a ginástica, são conteúdos que por si só, tendem a desmistificar o “toque”, o contato, encontrando uma vivência sadia da sexualidade, exercitando-a naturalmente. A Educação Sexual sadia é não interferir incentivando ou freando suas manifestações, e sim, compreender suas diferentes fases, e a intensidade com que se manifesta em cada um.
Tratando-se de educação física não podemos esquecer de que o corpo não se separa da mente, temos por obrigação trabalhar o ser humano como um todo, respeitando tanto seus limites físicos, quanto sentimentais, e auxiliando ao máximo, nessa interação social e superação dessa visão reducionista, enfatizando a sexualidade como uma característica humana espontânea e necessária para a existência.
A formação de valores, seja no campo ético, desenvolvendo o espírito coletivo, a solidariedade, a necessidade da busca de um resultado comum, também reflete no trabalho de educação sexual, entendendo como Bonfim (2009) que a sexualidade é desenvolvimento e relacionamento humano.
No campo estético,  a educação física pode trabalhar o sentimento, a auto estima e o prazer que estão diretamente ligados à sexualidade. As atividades físicas de maneira geral, apresentam-se também como uma forma de aprender a expressar, respeitar e lidar com os  afetos, sentimentos, desejos, de si mesmo e do outro.
Outro trabalho importante onde a educação física se apresenta como um campo capaz de propiciar reflexões ricas diz respeito à cultura corporal. Podendo contribuir para a  superação dos modelos e esteriótipos idealizados de corpo belo, a percepção que permeia o conceito de corpo na sociedade atual abordando desde o conceito padronizado de beleza (mito de corpo perfeito), especialmente na adolescência, onde estes conceitos esteriotipados, levam os jovens a uma construção negativa da sua auto-imagem, prejudicando sua auto-estima, e através de reflexões críticas, pode-se reverter estes  hábitos nada saudáveis que muitos adolescente adotam para incluir-se na ditadura de beleza imposta pela sociedade. Conhecer seu corpo, aprender a cuidar e valorizar a saúde; é um dos caminhos que levam a formação da consciência crítica que torna uma pessoa capaz de fazer escolhas conscientes responsáveis inclusive, a respeito da vivência de sua sexualidade. E como afirma Vasconcelos (1971, p.3)
 [...] tudo isso faz da sexualidade humana o que ela pode ser: uma descoberta, uma elaboração, uma busca. Um peso que a estrutura como um existencial, como uma dimensão do ser-no-mundo do homem, posto que não nos referimos a uma sexualidade animal, sem história e sem cultura, mas à sexualidade enquanto imersa na temporalidade, nela recebendo sua revelação vivencial, suas formalizações conceituais, sua expressão estética, seu tratamento moral e social..

Quando somos capazes de reconhecer a influência da cultura, as determinações históricas, o peso da ideologia vigente na forma como vemos o mundo, como nos vemos, como nos sentimos, nos relacionamos e como atuamos na sociedade, podemos dizer que estamos a um passo da aquisição de consciência crítica e da possibilidade de superação de práticas reducionistas e discriminatórias também no âmbito da sexualidade. E neste sentido a educação física pode oferecer ferramentas importantes na formação integral do ser.
A Educação Física pode contribuir de maneira significativa para o desenvolvimento da sexualidade dos alunos nas séries iniciais, possibilitando que os mesmos sejam familiarizados com os assuntos e quando chegarem às series mais adiantadas estarão mais a vontade ao lidar com o tema.
Porém, como afirma Nunes (2000, p,74), “tratar de sexualidade na escola requer o alicerce de uma concepção científica e humanista desta sexualidade, superando o senso comum, que é o nível primário do conhecimento social” [...].   O que traz um desafio para o profissional de Educação Física que, deve então, buscar maior entendimento sobre o tema, pois trabalhar com a sexualidade dos alunos exige que o mesmo esteja preparado para tratar a sexualidade como matéria indispensável ao longo das suas aulas.
Conclusões Parciais:

Mesmo com estudo em andamento, diante do estudo já realizado podemos afirmar que a educação física se apresenta sim, como um campo rico de possibilidades para desenvolver um trabalho voltado à educação sexual emancipatória, mas mesmo diante de possibilidades concretas, que possam ser utilizadas em meio às aulas de Educação Física, estas  ainda se apresentam como um desafio, diante da na falta de preparo do docente para trabalhar o tema Educação Sexual na escola.
Consideramos que diante da influência do meio social, e a banalização do sexo, há uma crise de identidade sexual no adolescente e posteriormente jovem. Compreendendo todo ciclo de maturação atravessado pelo aluno dentre o ambiente escolar, necessitamos de argumentos que possam salientar e desmistificar aspectos relacionados á formação de uma personalidade socialmente mecânica, reducionista e reprimida.
Além das dificuldades no domínio do profissional de Educação Física para trabalhar com conteúdos relacionados à temática, que se afasta de qualquer tipo de atividade que possa se relacionar. Presenciamos também a falta de harmonia nos relacionamentos humanos perante as aulas de Educação Física, com práticas voltadas a “mini grupos”, evidenciando processos de classificações e preconceitos, tanto físicos, quanto sexuais. Com uma metodologia defasada, e práticas pedagógicas ineficientes, observamos um leque de oportunidades desperdiçadas pelo profissional de Educação Física, não contribuindo para a conscientização e a criação de um conceito sexual emancipatório do adolescente.
A educação física por ser uma disciplina que buscar envolver e desenvolver corpo e mente, movimento, sentimento, expressão, afetividade, engloba aspectos centrais da sexualidade;  e trabalhando os conteúdos estruturantes de maneira crítica pode contribuir significativamente para o desenvolvimento corporal e emocional, oferecendo ferramentas que levem os alunos a estabelecer novos valores, comportamentos, hábitos e  atitudes, relacionados à sexualidade. A oportunidade de interação de meninas e  meninos em atividades  mistas oferecem possibilidades de convivência,  e superação de preconceitos, bem como promove espaços para que ambos que ambos busquem se conhecer, se observar, se descobrir, se respeitar, se apoiar, onde aprendam a dialogar abertamente e desenvolver sentimentos de fraternidade e tolerância.

Referências

ALTMANN, Helena. Rompendo fronteiras de gênero: Marias (e) homens na Educação Física. Belo Horizonte, MG: UFMG, 1998. 111 p. (Dissertação, Mestrado em Educação)

BREGOLATO, Roseli Aparecida. Cultura Corporal da Dança. 3 ed. São Paulo: Ícone,

BONFIM, Cláudia Ramos de Souza. Educação Sexual e Formação de Professores de Ciências Biológicas: contradições, limites e possibilidades. Tese de Doutorado. Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação. Campinas, SP:  Unicamp, 2009.

­­______. A escola e formação da consciência corporal crítica da criança e do adolescente frente à visão reducionista do corpo na sociedade capitalista mercantil. Online. Disponível na Internet.  In: http://educacaoesexualidadeprofclaudiabonfim.blogspot.com/2010/09/escola-e-formacao-da-consciencia.html Acesso 15 fev 2011.

GARCIA; HASS. Expressão Corporal: Aspectos gerais. Porto Alegre, RS: Edpuc, 2002, p11.

NUNES, César; SILVA, Edna. A educação sexual da criança. Campinas, SP: Autores Associados, 2000, p 74.

CONTRIBUIÇÕES DA EDUCAÇÃO FÍSICA PARA EDUCAÇÃO SEXUAL ESCOLAR SANTOS, André de Souza BUSQUIM, Ana Maria de Oliveira CEZARIO, Cintia Silva FAIAM, Francielly Marques LEITE, Joiseleide Aparecida PETRUS, Marissa Cacciolari ROMAGNANI, Alessandra SILVA, Roger da Acadêmicos da Faculdade de Ensino Superior Dom Bosco Membros do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação e Sexualidade Bolsistas do GEPES- PET-MEC-FDB Resumo: A presente pesquisa é qualitativa de caráter bibliográfico. O Objetivo principal foi apontar as contribuições da educação física para o desenvolvimento de uma educação sexual escolar emancipatória. O referencial teórico pauta-se especialmente nos estudos de Nunes (2000), Altmann (1998), Bonfim (2011). Mesmo com estudo em andamento, Após pode-se afirmar que a educação física se apresenta como um campo privilegiado que apresenta possibilidades significativas para a superação de preconceitos, dogmas e tabus existentes na sociedade, porém para que isso se efetive na prática é necessário que a formação docente proporcione uma visão mais ampla da sexualidade e orientações pedagógicas que dê subsídios teóricos e práticos para o desenvolvimento de uma educação sexual escolar. Palavras-chave: Educação Física, Educação Sexual, Consciência Corporal Introdução Durante muito tempo, o foco da educação física era o corpo e a prática esportiva nas aulas sempre privilegiou os meninos pelo caráter competitivo e o excesso de contato físico. Já para as meninas havia restrições e preconceitos acreditando que o esporte contradizia com sua feminilidade, trazendo rejeição das mesmas, quanto à prática esportiva. Neste momento histórico a educação física acabava por disseminar preconceitos de gênero, não contribuindo para uma educação sexual emancipatória, mas consolidando uma visão discriminatória. Considerando Altmann (1998) a linguagem, os uniformes, os refrões utilizados no esporte sempre reproduziram e constituíram um modelo ideal de masculinidade do esporte, associados à imagem de força, violência e vitória. O que excluía não apenas as meninas da prática esportiva, como também aqueles homens cuja imagem não estivesse associada à este esteriótipo de masculinidade, produzindo então identidades esportivas e de gênero, e inclusive, determinando a forma como se dava os relacionamentos entre os jogadores. A partir da década de 1990, com a criação da nova LDB 9394/96 e com os Parâmetros Curriculares Nacionais, a educação física passa, ter pelo menos teoricamente, uma visão aberta e voltada para a integração de meninos e meninas sem distinção nas práticas dos esportes e de todos os conteúdos a serem apresentados pela disciplina, embora saibamos que a escola e mais especificamente muitos professores ainda não incorporaram de fato, na práxis, essa nova visão. E há que se ressaltar que, está integração, por si só, não é capaz de dissolver os preconceitos existentes, e muito menos, considerar ainda o fato de se permitir representações masculinas e femininas integradamente, ou mesmo isoladamente em práticas esportivas antes consideradas basicamente masculinas, não significa dizer que a educação física desenvolve um trabalho de educação sexual. Pois, as relações de gênero, são apenas uma das questões, diante das inúmeras temáticas referentes à sexualidade. Mesmo esta seja uma temática importante, não é suficiente para dar conta da amplitude e complexidade que a educação sexual necessita para formar sujeitos conscientes em relação à vivência da sexualidade. Diante da transversalidade a temática da sexualidade passa a ser responsabilidade de todas as disciplinas desenvolver um trabalho de educação sexual no ambiente escolas. Sabe-se que muito antes disso, a sexualidade já era trabalhada na escola, mas numa vertente reducionista, médico-higienista-biologista, e isso se dava quase sempre em uma única disciplina, as Ciências Biológicas. Na tentativa de superar essa visão genitalista, parte-se da premissa que a Educação Física seja uma disciplina que ao lidar com o corpo, apresenta-se intrinsecamente ligada às questões da sexualidade, e pode contribuir de maneira significativa e ampla neste sentido, se além da consciência corporal, buscar o desenvolvimento do ser humano na sua totalidade, integrando corpo e mente. Objetivo Geral Diante desta contextualização inicial o objetivo central foi buscar compreender de que forma é possível através dos conteúdos estruturantes da educação física desenvolver um trabalho que busque uma educação sexual crítica capaz de oferecer reflexões que levem o aluno a construir uma nova visão da sexualidade, superando a ênfase biológica e reprodutiva valorizando a interação entre corpo e mente, e buscando uma vivência prazerosa e qualitativa da sexualidade, sem preconceitos e tabus. Problema Os pressupostos inicialmente apresentados levantam necessariamente dois questionamentos neste estudo: Como é possível através dos conteúdos estruturantes da educação física desenvolver um trabalho de educação sexual emancipatória? Que será nossa questão central, a qual nos abre uma questão secundária: Mesmo sendo a educação física um campo de possibilidades para a formação de consciências críticas em relação à compreensão da sexualidade, por que os professores de educação física ainda não incorporam em sua práxis um trabalho de educação sexual emancipatória? Educação Física: um campo privilegiado para a abordagem da educação sexual A sexualidade faz parte da vida e está ligada ao desenvolvimento global do indivíduo, constituindo um dos elementos da personalidade. De alguma forma os relacionamentos, o equilíbrio emocional e a manifestação de sentimentos do indivíduo dependem de uma boa evolução da sexualidade, durante as etapas da infância à adolescência. A identidade sexual é um dos elementos fundamentais da identidade geral que é delineada desde os primeiros momentos da vida e definida na adolescência compreendendo a interação com os pais, fatores morais, culturais, sociais, religiosos entre outros. Identidade de gênero é a convicção íntima de cada um quanto ao sexo a que pertence (masculino- feminino), independente da forma do corpo. Papel de gênero é a expressão da feminilidade ou masculinidade de cada um, de acordo com as normas sociais que o indivíduo interioriza no processo de socialização e refere-se ao desempenho do comportamento específico de acordo com o sexo biológico. Por entendermos como Bonfim (Online), que a disciplina de Educação Física seja uma das mais privilegiadas para se trabalhar a educação sexual na escola, acreditamos que o ponto de partida da disciplina em questão é amenizar a dicotomia existente na educação tradicional. Esta se preocupa apenas com o pensamento dos alunos, sem considerar os movimentos corporais, silenciando as manifestações da sexualidade. [...] a escola como um todo é um campo privilegiado para desenvolver a consciência corporal, e a Educação Física em especial, oferece um campo privilegiado para trabalhar as manifestações da sexualidade das crianças por ser uma área que está, constantemente, voltada para o domínio do corpo, contribuindo assim, para a problematização e desconstrução dos conceitos de corpo, gênero e sexualidade hegemônicos no contexto escolar especialmente no que diz respeito a valores. A Educação Física em particular, sendo uma disciplina que trabalha o sujeito em sua totalidade, se for ministrada de maneira crítica pode contribuir significativamente para a formação de consciências críticas e para a superação da visão social reducionista e cultural hegemônica de corpo. Daí, a urgente necessidade de se falar de ética corporal, buscar desenvolver valores, capacidade de discernimento, espírito crítico, reflexões face às atitudes e comportamentos. (BONFIM, Online, 2010). Mas, isto ainda não se consolida na prática da educação física, e se deve à não formação do professor para atuar no campo da educação sexual. Bonfim (2009) afirma que na formação do professor, nos cursos de licenciatura em geral, não se encontram disciplinas específicas sobre educação sexual, o enfoque quando se dá aos estudos da sexualidade são sempre biológicos, e vez ou outra, dentro de alguma disciplina o tema é abordado, mas de maneira reducionista e insuficiente para dar ferramentas suficientes ao futuro docente para que possa atuar sobre uma temática tão ampla e delicada e isso ocorre em todos os cursos de formação docente, não apenas na educação física. Em relação à qual há que se ressaltar que ainda tem pouca literatura científica, onde seja claramente feita a relação da mesma com a sexualidade. No entanto, a Educação Física escolar através dos seus conteúdos estruturantes pode levar conhecimentos de uma forma espontânea e descontraída. Vasconcelos (1971, p. 3), afirma que: Educação sexual é poder abrir possibilidades, dar informações sobre os aspectos fisiológicos da sexualidade, mas principalmente informar sobre as suas interpretações culturais e suas possibilidades significativas, permitindo uma tomada lúcida de consciência. É dar condições para o desenvolvimento contínuo de uma sensibilidade criativa em seu relacionamento pessoal. E sendo, “a expressão corporal [...] expressão integral e harmônica do corpo, compreendido como um todo, sem fragmentações [...] compreendida como sentimentos e emoções do ser humano traduzidas por meio de seus estados de ânimo” (GARCIA & HASS, 2002, p.11). É possível afirmar que, a educação sexual está de fato presente no contexto da educação física, pois a expressão corporal pode contribuir de maneira significativa para o desenvolvimento da sexualidade como um todo, além da quebra de preconceitos existentes. A visão deturpada relativa à sexualidade inibe a participação dos alunos entre si. O objetivo é a superação desses bloqueios para que os alunos possam se sentir a vontade para explorar o seu corpo em sua totalidade em toda prática educativa. Na educação infantil ao desenvolver a consciência corporal da criança mesmo de forma indireta estará contribuindo para sua educação sexual. Há também, alguns conteúdos evidenciam a parte do corpo dos órgãos sexuais, assim como na Ginástica Artística. O que ajuda a entender e viver a sexualidade de maneira saudável, despertando a consciência dos alunos para uma visão natural diante das manifestações sexuais. Dentre os componentes desenvolvidos na Educação Física escolar, a expressão corporal pode ser considerada fundamental, despertando e potencializando o desenvolvimento humano, tanto na dimensão individualista, quanto na dimensão coletiva, possibilitando ao indivíduo a descoberta de si e do outro, levando-o a refletir e compreender melhor seu corpo e todas as suas potencialidades. Freire, nos convoca há desenvolver no ambiente escolar uma educação de corpo inteiro, e aponta a necessidade do corpo todo ser matriculado na escola, o que nos pressupõe que em sala de aula as manifestações corporais do aluno ainda são desconsideradas. Louro (1999, p.21) confirma esse pressuposto ao se referir ao “corpo escolarizado” ou “corpo disciplinado pela escola”, onde “mãos, olhos e ouvidos estão adestrados para tarefas intelectuais, mas possivelmente desatentos ou desajeitados para outras tantas”. E diante dessa negação do corpo em sala de aula, aumenta-se ainda mais a responsabilidade e a necessidade de se trabalhar uma educação sexual emancipatória na educação física escolar. Bregolato ( ano, p.37) afirma que a “[...] educação física tem na expressão corporal sua justificativa enquanto área do conhecimento que pode contribuir para mudanças de comportamento, propondo atividades que envolvam a aproximação corporal de forma natural e espontânea” [...]. Outros conteúdos trabalhados na educação física, como dança, são de grande importância na formação do aluno, desenvolvendo a expressão corporal e coordenação motora, além de suma contribuição na integração dos alunos, derrubando barreiras no âmbito da sexualidade, promovendo a aproximação corporal sem o pensamento malicioso, gestos simples como dar as mãos, entrelaçar os braços e segurar na cintura são movimentos básicos da dança e promovem uma grande interação entre meninos e meninas. Educação Física, Sexualidade e Integração Devemos enaltecer nessa junção de Educação Sexual e Educação Física, uma melhora na qualidade de vida, citando o exercício bem conduzido, como uma fonte não apenas de integração e desinibição social, mas também utilizado como regulador de nosso próprio corpo. Nas meninas, por exemplo, a prática desenvolvida de forma adequada, pode atuar como regulador do ciclo menstrual, podendo resultar em melhora para quem na menstruação tem cólica, dor de cabeça, inchaços, dores lombares etc. Como podemos perceber, diante do estudo, encontramos na totalidade da educação física um vasto leque de opções para a busca de uma sexualidade consciente e integradora. As danças, as lutas, a ginástica, são conteúdos que por si só, tendem a desmistificar o “toque”, o contato, encontrando uma vivência sadia da sexualidade, exercitando-a naturalmente. A Educação Sexual sadia é não interferir incentivando ou freando suas manifestações, e sim, compreender suas diferentes fases, e a intensidade com que se manifesta em cada um. Tratando-se de educação física não podemos esquecer de que o corpo não se separa da mente, temos por obrigação trabalhar o ser humano como um todo, respeitando tanto seus limites físicos, quanto sentimentais, e auxiliando ao máximo, nessa interação social e superação dessa visão reducionista, enfatizando a sexualidade como uma característica humana espontânea e necessária para a existência. A formação de valores, seja no campo ético, desenvolvendo o espírito coletivo, a solidariedade, a necessidade da busca de um resultado comum, também reflete no trabalho de educação sexual, entendendo como Bonfim (2009) que a sexualidade é desenvolvimento e relacionamento humano. No campo estético, a educação física pode trabalhar o sentimento, a auto estima e o prazer que estão diretamente ligados à sexualidade. As atividades físicas de maneira geral, apresentam-se também como uma forma de aprender a expressar, respeitar e lidar com os afetos, sentimentos, desejos, de si mesmo e do outro. Outro trabalho importante onde a educação física se apresenta como um campo capaz de propiciar reflexões ricas diz respeito à cultura corporal. Podendo contribuir para a superação dos modelos e esteriótipos idealizados de corpo belo, a percepção que permeia o conceito de corpo na sociedade atual abordando desde o conceito padronizado de beleza (mito de corpo perfeito), especialmente na adolescência, onde estes conceitos esteriotipados, levam os jovens a uma construção negativa da sua auto-imagem, prejudicando sua auto-estima, e através de reflexões críticas, pode-se reverter estes hábitos nada saudáveis que muitos adolescente adotam para incluir-se na ditadura de beleza imposta pela sociedade. Conhecer seu corpo, aprender a cuidar e valorizar a saúde; é um dos caminhos que levam a formação da consciência crítica que torna uma pessoa capaz de fazer escolhas conscientes responsáveis inclusive, a respeito da vivência de sua sexualidade. E como afirma Vasconcelos (1971, p.3) [...] tudo isso faz da sexualidade humana o que ela pode ser: uma descoberta, uma elaboração, uma busca. Um peso que a estrutura como um existencial, como uma dimensão do ser-no-mundo do homem, posto que não nos referimos a uma sexualidade animal, sem história e sem cultura, mas à sexualidade enquanto imersa na temporalidade, nela recebendo sua revelação vivencial, suas formalizações conceituais, sua expressão estética, seu tratamento moral e social.. Quando somos capazes de reconhecer a influência da cultura, as determinações históricas, o peso da ideologia vigente na forma como vemos o mundo, como nos vemos, como nos sentimos, nos relacionamos e como atuamos na sociedade, podemos dizer que estamos a um passo da aquisição de consciência crítica e da possibilidade de superação de práticas reducionistas e discriminatórias também no âmbito da sexualidade. E neste sentido a educação física pode oferecer ferramentas importantes na formação integral do ser. A Educação Física pode contribuir de maneira significativa para o desenvolvimento da sexualidade dos alunos nas séries iniciais, possibilitando que os mesmos sejam familiarizados com os assuntos e quando chegarem às series mais adiantadas estarão mais a vontade ao lidar com o tema. Porém, como afirma Nunes (2000, p,74), “tratar de sexualidade na escola requer o alicerce de uma concepção científica e humanista desta sexualidade, superando o senso comum, que é o nível primário do conhecimento social” [...]. O que traz um desafio para o profissional de Educação Física que, deve então, buscar maior entendimento sobre o tema, pois trabalhar com a sexualidade dos alunos exige que o mesmo esteja preparado para tratar a sexualidade como matéria indispensável ao longo das suas aulas. Conclusões Parciais: Mesmo com estudo em andamento, diante do estudo já realizado podemos afirmar que a educação física se apresenta sim, como um campo rico de possibilidades para desenvolver um trabalho voltado à educação sexual emancipatória, mas mesmo diante de possibilidades concretas, que possam ser utilizadas em meio às aulas de Educação Física, estas ainda se apresentam como um desafio, diante da na falta de preparo do docente para trabalhar o tema Educação Sexual na escola. Consideramos que diante da influência do meio social, e a banalização do sexo, há uma crise de identidade sexual no adolescente e posteriormente jovem. Compreendendo todo ciclo de maturação atravessado pelo aluno dentre o ambiente escolar, necessitamos de argumentos que possam salientar e desmistificar aspectos relacionados á formação de uma personalidade socialmente mecânica, reducionista e reprimida. Além das dificuldades no domínio do profissional de Educação Física para trabalhar com conteúdos relacionados à temática, que se afasta de qualquer tipo de atividade que possa se relacionar. Presenciamos também a falta de harmonia nos relacionamentos humanos perante as aulas de Educação Física, com práticas voltadas a “mini grupos”, evidenciando processos de classificações e preconceitos, tanto físicos, quanto sexuais. Com uma metodologia defasada, e práticas pedagógicas ineficientes, observamos um leque de oportunidades desperdiçadas pelo profissional de Educação Física, não contribuindo para a conscientização e a criação de um conceito sexual emancipatório do adolescente. A educação física por ser uma disciplina que buscar envolver e desenvolver corpo e mente, movimento, sentimento, expressão, afetividade, engloba aspectos centrais da sexualidade; e trabalhando os conteúdos estruturantes d

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Seminário de Educação Afetivo-Sexual

O I Seminário de Educação Afetivo-Sexual: Corpo, Gênero e Sexualidade e II Ciclo de Palestras em Educação, Sexualidade, Saúde e Direito Sexual, realizado na Faculdade Dom Bosco, no dia 04 de junho de 2011, das 8 às 17 h, apoiado pelo NDE dos Cursos de Direito, Educação Física e Pedagogia e organizado pelo Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação – GEPES - PET - MEC, coordenado pela Professora Doutora Cláudia Bonfim. Teve como objetivo promover o debate sobre a construção sócio-histórica-cultural da sexualidade, dos papéis de gênero e das práticas sociais na constituição dos corpos, com ênfase nas práticas escolares.

Palestrantes consolidados na área, internos e externos refletiram sobre diversas temáticas da sexualidade, entre os quais estavam os próprios membros do GEPES, que socializaram com a comunidade os trabalhos científicos que produziram. Para abrilhantar ainda mais o Seminário, foi realizado o lançamento do livro “EDUCAÇÃO SEXUAL E FORMAÇÃO DE PROFESSORES: Da Educação Sexual que temos à Educação que queremos” da pesquisadora e professora da Faculdade Dom Bosco, Doutora Cláudia Bonfim.

A primeira edição do evento foi realizada em 2010, contando com a participação em sua maioria de alunos da própria faculdade. Esta segunda edição triplicou o número de participantes, reunindo docentes e futuros docentes de Cornélio Procópio e região.

Em nome do GEPES, agradecemos a todos os participantes, principalmente de Nova Fátima e Sertaneja, aos palestrantes que voluntariamente abrilhantaram o evento, em especial a Direção da Faculdade Dom Bosco, ao Programa de Educação Tutorial (PET) - Ministério da Educação (MEC), à Associação Brasileira de Educação Sexual (ABRADES) e ao Programa de Ação e Metas da Prefeitura Municipal (PAM) pelo apoio ao evento.

O que motiva nossa luta pela Educação Afetivo-Sexual Emancipatória é nossa paixão pela sexualidade e a necessidade que vislumbramos de provocar reflexões e contribuir para a formação docente, para que possamos elevar a qualidade das intervenções sobre a temática da sexualidade nas escolas e na sociedade.

Profª Dra Cláudia Bonfim


As fotos do evento serão disponibilizadas na página acima no blog denominada Fotos do SEAS (Seminário de Educação Afetivo Sexual)

EDUCAÇÃO SEXUAL NA ESCOLA: IMPORTÂNCIA, LIMITES E DIFICULDADES

MORA, Leandra Cristina
FARIA, Eliane Marcal de
JACOMO, Johayne Pacheco
Acadêmicas da Faculdade de Ensino Superior Dom Bosco
Membros do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação e Sexualidade - GEPES
Bolsitas GEPES-PET-MEC-FDB
BONFIM, Cláudia
Coordenadora do GEPES


Resumo: A sexualidade é a necessidade básica do ser humano, que não pode ser separada da vida, pois envolve o desenvolvimento da pessoa em sua totalidade: seus sentimentos, pensamentos e ações. No presente estudo de caráter bibliográfico, procura-se averiguar como os docentes relacionam a temática da sexualidade nas séries iniciais do Ensino Fundamental e, se a mesma é abordada no espaço escolar. Fundamenta-se, especialmente em Sayão e Bonfim. Conclui-se que, a escola ora silencia, oculta ou não aborda o tema na intensidade necessária, e isto se deve a diversos fatores, entre eles: a visão docente sobre a temática, que se formou a partir de sua própria educação sexual; a visão e interferência da família sobre a importância da abordagem da sexualidade no ambiente escolar e à falta de formação docente para abordar o tema.

Palavras-chave: Educação Sexual; Escola; Postura Docente.

Introdução

A sexualidade infantil é fundamental na formação da personalidade, pois é uma necessidade básica do ser humano desde o nascimento.
O conceito de Educação Sexual aqui explicitado é a orientação, a preparação, o ato que possibilitará a criança viver sua sexualidade de forma natural, saudável, prazerosa e consciente, sabendo tomar decisões, se posicionar e reconhecer até onde vai sua liberdade e limites. A família e escola são dois lugares com missões específicas para cada um embora estejam integrados na unidade de projeto comum. Aos pais, cabe o direito e dever da Educação Sexual dos filhos independente da missão da escola. A sociedade também realiza um papel decisivo da Educação Sexual de todas as crianças, adolescentes, jovens e adultos, mas independente destas outras esferas, pautando em Bonfim (2009) parte-se da premissa que a escola é neste momento histórico um dos locais mais privilegiados para que a educação sexual seja realizada.

Objetivo Geral

O presente trabalho enfoca a questão da Educação Sexual na escola, e busca esclarecer sobre a importância da mesma ser tratada no ambiente escolar e qual tem sido a postura do educador frente a esse trabalho.

Problemática

Ao discutir-se a temática da Educação Sexual nas escolas, cabe partirmos do seguinte questionamento: como e por que tratar de sexualidade no espaço escolar?
Parte-se do pressuposto, que ao compreender esta questão, o educador estará consciente da necessidade da abordagem do tema em sala de aula, que em geral é silenciado, pois a escola nem sempre aborda o tema, e quando este é tratado não envolve a intensidade e amplitude necessária.

A Educação Sexual na Escola

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN - 9394/96), em seu artigo segundo, referente aos Princípios e Fins da Educação Nacional, declara: “a educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.”
Cita também, no artigo vinte e nove, referente à Educação Infantil: “A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade.” (LDBEN 9394/96).
Se a lei tem por finalidade garantir as condições legais para o desenvolvimento integral do educando, a escola, para o alcance desse objetivo, há também que educar sexualmente as crianças. A sexualidade é intrínseca ao ser humano. Se a escola, ao educar, não orienta a criança a lidar com sua própria sexualidade, não está educando-a integralmente.
As crianças, ao entrarem no espaço escolar, não deixam de fora suas dúvidas, conflitos, desejos, fantasias, relacionadas à sexualidade. Ao contrário, todas estas inquietações são manifestadas, de forma verbalizada ou não; nas atitudes e comportamentos. (Bonfim, 2011)
As manifestações mais frequentes nas séries iniciais são as brincadeiras que envolvem contato corporal. É comum nessas séries a curiosidade sobre concepção, relacionamento sexual, homossexualidade. Observa-se que as crianças reproduzem manifestações de sexualidade adulta vistas na TV ou presenciadas, seja no ambiente familiar ou escolar, as quais não compreendem plenamente.
O trabalho de Educação Sexual na escola pode contribuir para o real processo ensino-aprendizagem. Quando a criança possui curiosidades e angústias a respeito da sexualidade, o aspecto emocional fica abalado. As emoções negativas podem resultar em comportamentos indiferentes ou mesmo em dificuldades de aprendizagem. (Bonfim, 2011)
Segundo Goleman (1994, p.63), “emoções são sentimentos a se expressarem em impulsos e numa vasta gama de intensidade, gerando ideias, condutas, ações e reações. Quando burilados, equilibrados e bem-conduzidos transformam-se em sentimentos elevados, sublimados, tornando-se, aí sim – virtudes.”
Quando a questão da angústia é esclarecida para os alunos, aliviam- se a ansiedade, e diminui-se a agitação ocasionada por essa situação de ansiedade.
A Educação Sexual nas séries iniciais do Ensino Fundamental pode ainda contribuir na prevenção de problemas graves, como o abuso sexual, uma possível gravidez indesejada na adolescência ou a aquisição de doenças sexualmente transmissíveis. Se a pessoa aprende a lidar com a sexualidade de maneira saudável e natural, desde a infância, quando adolescente, terá condições de tomar atitudes conscientes, favorecendo assim, para o bem-estar das crianças e dos jovens na vivência de sua sexualidade.

A Postura Docente: dificuldades e limitações

A escola e os profissionais da educação têm dificuldade em abordar o tema Educação Sexual, enquanto os alunos têm suas curiosidades e dúvidas. Os docentes, em sua grande maioria, são de uma geração onde a sexualidade não era abordada no espaço escolar e até mesmo no âmbito familiar. Reprimida e repudiada pelos valores morais, culturais e religiosos como sendo algo pecaminoso, as manifestações da sexualidade na escola eram motivos de escândalo. Assim, incluir em sua prática educacional a Educação Sexual é um desafio.
Como afirma Foucault (1997, p.12), “a sexualidade é uma interação social, uma vez que se constitui historicamente a partir de múltiplos discursos sobre sexo; discursos que regulam, que normatizam instauram saberes que produzem verdade.”
Outra situação é a desaprovação da família, isso dificulta aos professores a inserção da Educação Sexual na escola. Existem famílias que acreditam que o trabalho da sexualidade com crianças é desnecessário, podendo o mesmo causar uma incitação precoce ao sexo. Tabus, preconceitos e valores estão fortemente presentes no cotidiano familiar, tornando-o conservador e não permitindo discussões a respeito do assunto. (SAYÃO, 1997)
O professor deve estar atento às diferentes formas de expressão dos alunos. Muitas vezes, a repetição de brincadeiras, apelidos ou paródias de músicas alusivas à sexualidade podem significar uma necessidade não verbalizada de discussão e de compreensão de algum tema. É essencial que o professor saiba como lidar com estas formas de expressão e comportamentos das crianças, aproveitando a oportunidade e dando início a uma conversa sobre sexualidade. Não deve levar comentários dos alunos para o lado pessoal, nem se sentir agredido por eles. O educador deve ter discernimento para não transmitir seus valores, crenças e opiniões como sendo princípios ou verdades absolutas, mas fazer uma reflexão dialógica, permitindo que o próprio aluno seja capaz de formar sua própria opinião de maneira consciente.
O distanciamento professor-aluno é uma das barreiras da Educação Sexual na escola. Para haver trabalho significativo é indispensável que se estabeleça uma relação de confiança e amizade. Para que as crianças expressem suas curiosidades de forma clara, é preciso que o docente mostre-se disponível para conversar a respeito das questões apresentadas pelo aluno e responder de maneira direta e clara.
A sexualidade infantil é íntima a qualquer criança e sua demonstração será particular a cada uma, sendo que aos educadores cabe conhecê-la, respeitá-la, conduzi-la de forma adequada, e tendo sempre em mente uma auto reflexão de sua própria sexualidade.
Considerando Bonfim (2009), um dos motivos da sexualidade ser uma temática silenciada no ambiente escolar se deve à não formação docente para abordar a educação sexual. Sendo a sexualidade um tema complexo, amplo e por envolver a educação familiar e religiosa, torna-se um assunto que exige do docente o conhecimento necessário para fazer a abordagem da maneira correta. E ainda, há que se lembrar que cada faixa etária, exige uma linguagem específica e explicações que não ultrapassem a curiosidade da criança, e ao mesmo tempo não deixe de esclarecer todas as suas dúvidas.

Conclusão

A escola sendo um lugar de curiosidades, ideias, aprendizagem, conquistas, descobertas etc., não pode excluir as manifestações da sexualidade e, sim criar um espaço de discussão aberta e franca sobre ela, deixando de lado os próprios preconceitos, permitindo que cada um se mostre como é.
É na escola, que se tem a formação de uma opinião mais crítica sobre a sexualidade, permitindo, assim, a satisfação e os anseios dos alunos. Qualquer atitude tomada pelos educadores repercute na visão da criança a respeito da sexualidade. O educando vê no professor um modelo de comportamento.
Conclui-se que, o trabalho de Educação Sexual é complexo e amplo e os educadores, sentem-se desprovidos de preparação, possuindo conhecimentos insuficientes a respeito da Sexualidade e Educação Sexual, por isso, esbarram-se, em seus conceitos errôneos, reforçados pela educação e sociedade conservadora. É necessário que o educador tome consciência de que as manifestações da sexualidade infantil constituem-se em aspectos naturais e integrantes do desenvolvimento humano.
Hoje a sexualidade é tratada de forma mais explícita do que antes, quanto mais cedo forem derrubadas as barreiras que impedem uma Educação Sexual eficaz nas instituições escolares, mais cedo teremos a minimização de problemas como a repressão sexual, o abuso sexual, o preconceito sexual, a gravidez não planejada a e a proliferação de doenças sexualmente transmissíveis. É necessário que haja a implantação de Educação Sexual nas séries iniciais do Ensino Fundamental, ressaltando-se que, ela deve ser iniciada desde a Educação Infantil. Mudar é difícil, os desafios são imensos, cabe a cada um tentar dar novas cores a esse quadro, promovendo as mudanças necessárias.



REFERÊNCIAS
BONFIM, Cláudia Ramos de Souza. Educação Sexual e Formação de Professores de Ciências Biológicas: contradições, limites e possibilidades. Tese de Doutorado. Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação. Campinas, SP: Unicamp, 2009.
______. A Escola e a Negação do Corpo da Criança. Online. Disponível na Internet in: http://educacaoesexualidadeprofclaudiabonfim.blogspot.com/2011/03/escola-e-negacao-do-corpo-e-da.html Acesso 25 mar 2011

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996.

FOUCAULT, M. A História da Sexualidade I: A vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal.1997

GOLEMAN, Daniel. Inteligência emocional. Rio de Janeiro: Objetiva, 1994.

SAYÃO, Yara. Orientação Sexual na Escola: os territórios possíveis e necessário. In: AQUINO, J. G. (org.). Sexualidade na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1997.

PROGRAMA DE SAÚDE SEXUAL GOVERNAMENTAL: CONTRIBUIÇÕES, DIFICULDADES E LIMITAÇÕES


MARTYRES, Thais Raffaela dos
Faculdade de Ensino Superior Dom Bosco
Acadêmica do Curso de Farmácia
Membro do Grupo de
Bolsista GEPES – PET – MEC – FDB

BONFIM, Cláudia R. S.
Doutora em História, Filosofia e Educação – UNICAMP
Pesquisadora do Grupo PAIDÉIA – FE – UNICAMP
Coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação e Sexualidade
Tutora GEPES – PET – MEC
Docente da Faculdade de Ensino Superior Dom Bosco



Resumo: O presente trabalho se constitui como um estudo bibliográfico, com aporte de pesquisa de campo, através da observação, sensível e informal do nosso cotidiano profissional e pessoal, diante dos casos relativos à sexualidade que acompanhamos como estagiária em uma esfera do governo do âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), na região norte do Paraná, abrangendo 21 municípios. Nos fundamentamos especialmente nos estudos de Foucault, Nunes, Mynao e Bonfim, entre outros. O objetivo central é apontar as contribuições, dificuldades e limitações dos programas de saúde sexual governamentais. Verificou-se a necessidade de superação da visão meramente biológica, em que ainda se encontra pautada a educação sexual, tanto escolar, quanto sociais, especialmente no âmbito de saúde pública, que se deve aos limites da formação dos profissionais que atuam nesta área, que não lhes proporcionaram uma visão ampla.

Palavras-chave: Saúde Sexual, DST´s, AIDS.

1. Introdução

Sexualidade é um termo amplamente abrangente que engloba inúmeros fatores e dificilmente se encaixa em uma definição única e absoluta. A definição central de sexualidade que utilizamos para nosso estudo decorre da Organização Mundial de Saúde (OMS) que afirma:
A sexualidade humana forma parte integral da personalidade de cada um. É uma necessidade básica e um aspecto do ser humano que não pode ser separado de outros aspectos da vida. A sexualidade não é sinônimo de coito e não se limita à presença ou não do orgasmo. Sexualidade é muito mais do que isso. É energia que motiva encontrar o amor, contato e intimidade, e se expressa na forma de sentir, nos movimentos das pessoas e como estas tocam e são tocadas. A sexualidade influencia pensamentos, sentimentos, ações e integrações, portanto a saúde física e mental. Se saúde é um direito humano fundamental, a saúde sexual também deveria ser considerada como direito humano básico. A saúde mental é a integração dos aspectos sociais, somáticos, intelectuais e emocionais de maneira tal influenciem positivamente a personalidade, a capacidade de comunicação com outras pessoas e o amor.

Mas também recorremos à compreensão histórica da sexualidade. Foucault (1997, p.12) afirma que “a sexualidade é uma interação social, uma vez que se constitui historicamente a partir de múltiplos discursos sobre sexo; discursos que regulam, que normatizam e instauram saberes que produzem verdades.”

Concordamos ainda com Nunes e Silva (2000, p.73) ao afirmarem:
[...] Entendemos que a sexualidade é uma marca única do homem, uma característica somente desenvolvida e presente na condição cultural e histórica do homem [...] A sexualidade transcende a consideração meramente biológica, centrada na reprodução das capacidades instintivas [...] A sexualidade é a própria vivência e significação do sexo, para além do determinismo naturalista, isto é, carrega dentro de si a intencionalidade e a escolha, que a tornam uma dimensão humana, dialógica, cultural [...].

Nunes apud Bonfim (2009, p.8) também afirma que:
A sexualidade é uma área de saber e de investigação essencialmente complexa e polêmica, por envolver dogmas religiosos, valores éticos e estéticos, enfim a subjetividade. E nos aponta a necessidade de se fazer a superação da visão simplista, preconceituosa, moralista, equivocada, condicionada pela ideologia dominante, caracterizada pelo senso-comum.


2. Problemática


Diante das premissas presentes no conceito de sexualidade da OMS, e nas demais categorias apresentadas acima, podemos pressupor que há ainda dificuldades e limitações que precisam ser superadas. E nos suscitam o seguinte questionamento: Quais as principais dificuldades e limitações impedem a ampliação da visão da sexualidade dos profissionais de saúde que atuam nos programas de educação sexual governamental?

3. Objetivo Geral

Sem desconsiderar a importância da atuação destes programas, mas partindo da hipótese que se estes profissionais tivessem uma formação que lhes possibilitasse compreender os aspectos sócio-histórico-culturais da sexualidade, desenvolveriam um trabalho com resultados melhores é que estabelecemos o objetivo geral deste trabalho: apontar as contribuições, dificuldades e limitações dos programas de saúde sexual governamentais.

4. Metodologia

O estudo é de caráter bibliográfico, através de livros e artigos científicos, com aporte de pesquisa de campo, através da observação realizada em nossa vivência como estagiária do SUS, na cidade de Cornélio Procópio, região norte do Paraná. A fundamentação teórica pauta-se em Foucault, Nunes, Minayo e Bonfim, entre outros.

5. Aspectos Gerais

Os dados do Ministério da Saúde apontam que 87% das mulheres que vivem com HIV/AIDS se infectaram através da relação sexual, sendo que, 83% delas têm idade entre 20 e 49 anos. E na faixa etária dos 13 aos 19 anos, há maior infecção entre as mulheres (10 mulheres para cada seis homens infectados). E acreditam que "até o momento, a informação correta e o uso do preservativo é a melhor forma de infecção pelo HIV.” E entre a faixa etária dos 20 a 24 anos, divisão por gênero é semelhante. Entre os homens, jovens se infectam mais em relações homossexuais.
Em nossa região não é diferente. Cada vez mais, há uma pequena procura por preservativos especialmente por parte de municípios menores. Diante dessa realidade cresce o número de gravidez indesejada na adolescência e o número de pessoas infectadas pelo HIV e por outras doenças sexualmente transmissíveis.
Considerando Bonfim (Online), um dos fatores que levaram ao não uso do preservativo se deve ao contexto sócio-histórico em que a sexualidade sempre esteve associada basicamente ao aspecto reprodutivo, diante desta visão reducionista grande parte da população, especialmente após a invenção da pílula anticoncepcional para não engravidar, deixando de lado o uso preservativo, sem levar em consideração que método anticoncepcional apenas evita a gravidez, mas não previne as doenças sexualmente transmissíveis. Bonfim ainda aponta que:
[...] Há que se ressaltar também que a descoberta a pílula anticoncepcional pode ser considerada um marco da revolução sexual de 1960, e também em termos de saúde pública, planejamento familiar e comportamento sexual no Brasil, e um marco essencial para a liberdade sexual e emancipação das mulheres, ao permitir que pudéssemos dissociar a ideia de sexo apenas como reprodução, e controlar o processo reprodutivo, trazendo um novo olhar e conceito sobre a sexualidade, e propiciando que as relações sexuais pudessem ser mantidas apenas pela busca do prazer. Com o surgimento da pílula surge a efervescência do movimento hippie com o Amor livre, e do avanço dos movimentos feministas. Até então vivíamos ainda o auge de uma geração fruto pleno da sociedade machista patriarcal, para muitos homens a pílula representou não mais o controle que eles acreditavam ter sob a fidelidade feminina. Mas é preciso pensar que a pílula também abriu espaço de certa forma para o não uso do preservativo, visto que nesta época a maior preocupação em relação ao sexo era o controle reprodutivo. Ainda hoje, muitas pessoas se esquecem que a pílula anticoncepcional apenas evita uma gravidez não planejada, mas não preserva de se contrair o vírus da AIDS ou outras DST´s. A utilização da pílula por si só não exclui a necessidade e a importância do uso do preservativo.

Outro aspecto importante que faz com que as pessoas não façam uso da camisinha é imaginar que o método diminui o prazer no ato sexual, o que de fato não é real. Retomando Bonfim (Online) que esclarece: “[...] O nosso maior órgão sexual é a mente (psiqué), para sentirmos prazer nossa mente precisa estar entregue plenamente àquele momento. Livre de culpas, problemas, dogmas, medo, tabus. ”
No tempo em que estagiamos no SUS (dois anos e meio), percebemos a grande dificuldade que as pessoas soro positivo, encontram ao confirmar sua infecção, e a resistência na hora de procurar o parceiro com que teve a relação sexual desprotegida para que este também faça o teste, e quanto ao próprio tratamento. Com isso, muitas vezes, atrasa-se o início do tratamento fazendo com que a doença piore e se manifeste no organismo outras infecções. Os próprios parceiros, mesmo diante da constatação do outro, também são resistentes a fazer o teste.
Isso nos leva a pensar sobre até que ponto as informações sobre como usar o preservativo e sua distribuição pelos postos de saúde tem sido eficientes em seu objetivo de diminuir esses índices relativos à gravidez não-planejada e de DST´s e AIDS.
Por isso, mesmo atuando no âmbito da saúde, sentimos a necessidade de uma compreensão histórica da sexualidade e de uma se formar uma equipe multidisciplinar para atuar na área de políticas relativas à sexualidade: médicos, enfermeiros, psicólogos e educadores. Porque como aponta Bonfim (2009) as informações biológicas e sobre como usar o preservativo, assim como os métodos anticonceptivos são necessárias, mas não são suficientes para formar consciências críticas. Embora não só apenas os programas de saúde sexual precisem incorporar nova visão da sexualidade, pois como afirma Rosa (1984, p.31):
A orientação sexual, nos moldes em que está sendo proposta nas escolas está mais relacionada aos programas de saúde com ênfase ao lado biológico e higienista e isto reflete no despreparo dos educadores frente a essa temática, não apresentando informações realmente necessárias aos jovens.

Bonfim (2009, p.85) ainda afirma que:
Ainda hoje, a orientação sexual escolar está vinculada à linha dos programas de saúde como uma extensão da pedagogia da higiene das décadas de 1960 e 1970. Tais programas nunca constituíram uma disciplina formal dentro do currículo escolar, mas um conjunto de conhecimentos na área médico-higienista, enfoque que os próprios educadores utilizam para justificar que não trabalhem na sua disciplina o tema da sexualidade. Os poucos cursos de qualificação sobre a sexualidade ofertados pelos órgãos educacionais também acabam traduzindo-se na visão biologista-médico-higienista, pautando-se na sexualidade preventiva, vinculada à patologia e à gravidez não planejada na adolescência sem destacar a construção histórica, política, social e cultural da sexualidade humana. (p.85).

É importante ressaltar que, os profissionais que trabalham nos programas de saúde sexual governamentais, realizam um trabalho importante dentro dos aspectos da prevenção da saúde sexual reprodutiva, mas atuam dentro dos limites da sua formação que certamente não lhes propiciou uma visão mais ampla da sexualidade, englobando além dos aspectos biológicos, sua compreensão sócio-histórica-cultural.
Consideramos como Minayo (1997), a necessidade da superação dos limites de atuação da formação que estes profissionais tiveram, formando agentes sociais com uma visão de saúde integral do ser humano.

6. Conclusão

Após este estudo é possível concluir que, embora o acesso ao preservativo e informações relativas ao seu uso sejam importante, faz-se necessário desenvolver um programa contínuo de conscientização dos jovens e de toda população sobre como viver uma sexualidade saudável e não apenas no aspecto de prevenção de AIDS, DSTs e gravidez não planejada, mas da saúde emocional das pessoas. Sendo importante e indispensável, uma política pública de educação afetivo-social que passe a esclarecer sobre a sexualidade em sua totalidade.
Dentro de nossa experiência como estagiária do SUS notamos a necessidade dos Programas de Saúde Sexual desenvolvidos no âmbito do SUS, há superarem a visão médica-biologista ação por uma educação sexual que tenha uma compreensão sócio-histórica da sexualidade de maneira crítica e que considere o indivíduo, em sua totalidade, ou seja, que busque uma visão mais ampla integrando os aspectos biológicos, sociais, subjetivos, que busque leva à aquisição da consciência corporal, e para o enriquecimento das trocas afetivas, levando as pessoas a construírem relações pautadas no respeito a si e ao outro.
Acreditamos que os Programas de saúde sexual não devem ter como objetivo apenas os aspectos informativos e preventivos de doenças sexualmente transmissíveis, mas também promoção da consciência sobre os significados e importância da vivência da sexualidade humana em todos os seus aspectos a partir de uma visão positiva, prazerosa, saudável, livre de tabus e preconceitos, mas plena de significados. Faz-se necessário superar a abordagem médico-biologista-hieginista (centrada no profissional), que torna a orientação sexual um monólogo interrogativo, com respostar monossilábicas, e com um caráter informativo, muito mais do que reflexivo. Este tipo de orientação embora importante não é capaz por si só de contribuir para que as pessoas possam construir novos valores, significados, e possibilidades mesmo no âmbito da promoção da saúde sexual.
Pautados na Política Nacional de Educação Permanente em Saúde, que pelo menos teoricamente, busca uma humanização da atuação trabalhadores do SUS, defendemos que está deve ocorrer em todos os setores, inclusive na abordagem da saúde sexual, promovendo a ampliação dos conhecimentos destes profissionais no tocante à compreensão da sexualidade humana, buscando superar as práticas fragmentadas no campo da educação sexual, a visão ingênua e médico-biologista-higienista por uma visão crítica.


REFERÊNCIAS

BONFIM, C. R. S. Educação Sexual e Formação de Professores de Ciências Biológicas: contradições, limites e possibilidades. Tese de Doutorado. Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação. Campinas, SP: Unicamp, 2009.
______. Resistência ao uso do preservativo. Online. Disponível na Internet in: http://educacaoesexualidadeprofclaudiabonfim.blogspot.com/ Acesso 08 março 2011
FOUCAULT, M. A História da Sexualidade I: A vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 1997.
MINAYO, M. C. de S. A questão tecnológica e a qualificação profissional. In: AMÂNCIO FILHO, A. MOREIRA, M. C. G. B. (Org.). Saúde, trabalho e formação profissional. Organizado por Antenor Amâncio Filho. Rio de Janeiro: FIOCRUZ; 1997. p. 52.
NUNES, C.; SILVA, E.. A Educação Sexual da Criança. Campinas, São Paulo: Autores Associados, 2000.
ROSA, L. A. G. Freud e o inconsciente. Rio de Janeiro: Copyright, 1994.

FREUD: A IMPORTÂNCIA DO CONHECIMENTO DO DESENVOLVIMENTO PSICOSSEXUAL PARA A COMPREENSÃO DA SEXUALIDADE HUMANA


ROMAGNANI, Alessandra
FAIAM, Francielly M.
LEITE, Joiseleide Aparecida.
Acadêmicas da Faculdade de Ensino Superior Dom Bosco
Membros do Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação e Sexualidade  - GEPES
Bolsistas GEPES – PET – MEC – FDB
BONFIM, Cláudia
Coordenadora  do GEPES


Resumo: O presente estudo de caráter qualitativo-bibliográfico, fundamentado especialmente em Freud, Nunes, entre outros, tem por objetivo destacar a importância  das teorias de Freud, para a compreensão do desenvolvimento da sexualidade humana. Considerando a influência das transformações sociais e o pluralismo cultural. Partindo da premissa que a sexualidade é parte inerente ao ser humano Considera-se que, o entendimento da Teoria do desenvolvimento psicossexual, possibilitará ao docente e a todas as pessoas, conhecimento para agir de forma ponderada, racionalizada, natural e não repressiva, diante de situações cotidianas da sexualidade no universo infantil. Contribuindo assim, para o futuro de adultos que desfrutem  de uma sexualidade saudável, humanizada, afetiva, enfim, com uma melhor qualidade de vida.  

Palavras-chave: Freud; desenvolvimento psicossexual; sexualidade humana.

1 Introdução

            Sigmund Freud contribuiu para a ciência com a psicanálise, área do conhecimento que estuda o inconsciente humano. Ele foi audacioso  para levantar discussões e se dedicar ao estudo da sexualidade humana no século XIX, até então, a criança era vista como destituída de sexualidade. Causou impacto e escandalizou todo a  sociedade vienense e mais tarde o mundo, quando afirmou que o universo infantil era dotado de uma sexualidade subjetiva, constituída de   fases desde o nascimento até a maturidade. Onde a neurose na vida adulta, tem suas causas durante o desenvolvimento da sexualidade infantil, quando esta é reprimida, causando constrangimento, vergonha, bloqueando o seu pleno desenvolvimento. Tais afirmações causaram espanto  e geraram dúvidas, porque penetraram em questões até então envoltas de moralismos e em tabus enraizadas de preconceitos.
            Para compreender as dimensões dessas descobertas é preciso saber que a sexualidade está inserida em todos os âmbitos da sociedade. Segundo Nunes (1987, p.8) vivemos em ambiente “sexualizado”, ou seja, é função inerente ao ser humano, sendo   formada a partir de modelos construídos historicamente, sofrendo influencia pelo contexto político, econômico e cultural, “como expressão plena da identidade humana” (BONFIM, 2009, p.5). Trata-se de um movimento dinâmico, vivo, ou seja, dialético,  onde as mudanças nesses contextos,  são refletidas de maneira direta no comportamento sexual.
            O pluralismo cultural permite diferentes interpretações sobre a sexualidade, os papéis destinados aos homens e mulheres e seus relacionamentos, são facilmente verificados ao  longo da história e ajudam a compreender as bases que sustentam a sexualidade hoje, que embora seja um assunto mais freqüente na sociedade contemporânea, contudo ainda envolta em “mecanismos de controle, repressão e muita ignorância” (MARX, 1987, p.5.). Pode-se constatar essa situação na educação sexual ministrada nas escolas, com base em livros didáticos, que ainda trazem o foco em métodos contraceptivos, DSTs, ou seja, ao nível médico-biologista, esquecendo que o ser humano não é formado por partes estanques, ele é complexo e faz parte de uma totalidade,  formado pela relação entre corpo, espírito, mente e possui uma afetividade, que rege suas ações com o mundo que o cerca e consigo mesmo.

2 Objetivo Geral

            Pautados nessas premissas, o presente estudo tem como objetivo central apontar a importância dos estudos de Freud para a compreensão da sexualidade humana. Buscando esclarecer a importância da compreensão das fases do desenvolvimento psicossexual da criança na formação docente.

3 Problema

            Tendo em vista a necessidade da educação sexual escolar, e partindo do pressuposto, que o conhecimento das Teorias de Freud, possam contribuir significativamente para que ao docente possa orientar as crianças de maneira natural e equilibrada, ajudando-as a superar cada uma dessas fases para que na idade adulta possam viver sua sexualidade de maneira tranqüila, qualitativa, saudável e prazerosa. O estudo tem como questionamento central: qual a importância do conhecimento das Teorias de Freud, em especial das fases do desenvolvimento psicossexual da criança para a educação sexual escolar?

4 Metodologia

            Este estudo é de caráter bibliográfico, com abordagem qualitativa. A fundamentação teórica pauta-se especialmente em Freud, Nunes, Bonfim, entre outros estudiosos da sexualidade humana, a partir de livros, artigos e pesquisas científicas.

5 As Teorias de Freud: um marco importante para o avanço dos estudos da sexualidade

            Bonfim (2009) aponta que Freud foi responsável por superar os estudos da sexualidade nas ciências biológicas, ultrapassando a visão do sexo meramente reprodutivo, e transportar a temática para as ciências humanas, onde a sexualidade está ligada a afetividade, como fonte de bem-estar, “o prazer do amor, da comunhão interpessoal, da relação íntima e profunda com o outro da celebração da vida.”  (BONFIM, 2009,p.139.)
            Para Freud (1982) o superego, parte constitutiva da psique (mente), tema do qual trataremos de forma  abrangente mais adiante, faz parte do inconsciente e é formada por influencias advindas principalmente de “fatores externos – os ideais – que pertencem ao sistema social onde o sujeito encontra-se inserido.” (CECARELLI, 2000, p.20.). Assim a necessidade de conhecer a história da sexualidade, que esta envolta em um sistema axiológico, éticos e morais, influenciado pelo passado, torna-se necessária para compreender os “ideais” que regem a sociedade  hoje .
            Na Grécia Antiga (rural) devido ao pensamento mítico, o qual faz referência Nunes (1987) e a grande dependência de sobrevivência advinda da agricultura, relacionou-se a prosperidade da colheita com a mulher e sua capacidade de gerar filhos  e de trazer a vida. Acredita-se que esse fato se deve ao fator do desconhecimento da paternidade, de como se dava a concepção e de a agricultura ser uma atividade destinada ás mulheres,  tem-se então a “matrilinearidade”. A mulher é sinônimo de fartura e prosperidade, onde em algumas situações, alguns rituais são feitos com a mulher nua, sem preconceito algum, objetos utilizados por prostitutas ou filhos bastardos fazem parte do ritual. Ou seja, há uma “influência decisiva da magia erótica na agricultura.” (NUNES, 1987, p. 138). O sexo não era visto como algo ruim, e sim ao contrário, era visto como possibilidade de um melhor viver, contudo, desligado do fator prazer, influenciado pelo modelo econômico agrário e a concepção de mundo mítica daquela civilização.
            Quando as civilizações começaram a surgir, a mentalidade da sociedade se altera também, o sexo passou a ser  mais conhecido e racionalizado e foi relacionado ao prazer. Contudo, houve uma separação entre os papéis da mulher e do homem. Estes passaram a ser responsáveis pela “produção e reprodução”, houve uma exacerbação das atividades masculinas nos exércitos, com o  culto ao corpo e  a busca hedonista pelo prazer , onde o homossexualismo masculino encontrou terreno fértil para acontecer, tornando-se uma prática “normal”.
            A sexualidade passa a ser vista como pecado, desonra, algo sujo, negando o erótico, a partir do momento que a Igreja, em uma tentativa de reconstruir o Mundo Antigo, com a queda do Império Romano e o avanço das conquistas bárbaras, que desestruturaram a organização política, econômica, social e principalmente, enfraqueceram a cultura e os valores éticos e morais, decidiram catequizar a civilização, de maneira etnocêntrica, impor suas “verdades” sobre a sexualidade. “O corpo é lugar da maldade demoníaca” ( Nunes, 1987, p. 25), reprimir desejos e o sexo pelo prazer são seus objetivos, somente a intenção de procriação era considerada correta. O medo relacionado ao  pecado torna-se uma arma para amedrontar e controlar o comportamento da sociedade, onde o ideal de vida digna era o celibato e a castidade. Contudo, entrar para um mosteiro também significava manter seus bens, propriedades e fortuna intactas, sem precisar dividi-las, mas sim somá-las as da Igreja.
            Este contexto é acentuado durante o desenvolvimento do feudalismo, segundo Valladares (2005, p.64), o “Cristianismo enxerta o pecado no sexo e insere a culpa naquilo que qualifica como carne”, isso supervaloriza a virgindade e torna o casamento uma “invenção medieval”, onde o sexo é permitido somente para procriação, tornando a sexualidade uma utopia. Cabe salientar que, além dessa situação, a energia sexual foi  direcionada para o trabalho, era necessário homens com energia para produzir e fazer sexo era uma perda de tempo e reduzia a produção, uma das conseqüências do capitalismo, a repressão sexual.
            Uma questão para refletir, se a sexualidade foi negada  aos jovens e adultos, como eram então, conduzidas e tratadas as manifestações da sexualidade infantil?  Eis também a era Vitoriana, onde não se falava de sexo, ele era repudiado principalmente para as mulheres, o silêncio imperava. Contudo, ao nos portarmos a Foucault (1999, p.36), observa-se que esse  aparente silêncio, trazia consigo um momento em que o discurso sobre sexo se acentuou, em forma de confissão, “o que é próprio das sociedades modernas não é terem condenado o sexo a permanecer na obscuridade, mas sim o terem-se devotado a falar dele sempre, valorizando-o como o segredo.” Atrelado ao segredo, as manifestações da sexualidade infantil eram tratadas ora com indiferença ,como perversão ou vício que deveriam ser combatidos a qualquer custo, a vigilância era a prioridade.
            Com a sacralização do capitalismo, a prioridade é produzir  a vida e as relações ficam em segundo plano, são desumanizadas, assim como o sexo, que passou da repressão total para a banalização total. Bauman (2001) refere-se à sociedade pós-moderna como fluida, os valores, as relações interpessoais e as instituições são frágeis, não permanecem e tornaram-se descartáveis. De maneira alguma, faz-se aqui uma apologia a virgindade ou ao casamento “até que a morte os separe”, mesmo sem amor ou ao amor romântico que perdura a vida inteira, mas trata-se de valorizar as relações, envolve-las em afetividade e ao mesmo tempo, vivenciá-las de maneira crítica, saber com autonomia avaliar aquilo que nos faz bem, sem continuar seguindo a maioria, que não se questiona e se deixa levar pela mídia e pelo consumo exacerbado.
            Somente uma consciência crítica sobre a sexualidade pode reconstruir essa realidade, para isso é necessário autoconhecimento, e conhecimento de sua própria sexualidade, para assim saber lidar com o desenvolvimento psicossexual das crianças. Constitui então a importância da teoria de Freud, contudo, não como algo a ser deixada nas prateleiras da biblioteca, mas como conhecimento vivo, propagado, a todos sejam pais, professores, irmãos, enfim, considerando a sexualidade inerente ao se humano, a todos sem exceção.
            Diante dessa trajetória pela história foi possível perceber como o meio social influencia os comportamentos e as experiências vividas, em diferentes momentos históricos, pela constante busca pelo prazer, não passam despercebidas pela psique, situações que causaram constrangimento e sofrimento, podem ficar gravadas no inconsciente e mais tarde passam a se manifestar de maneiras diversas. O que vem de certa forma, reafirmar a importância do conhecimento teorias de Freud especialmente das fases do desenvolvimento psicossexual da criança para que possamos melhor orientá-las.
            Para compreender esse contexto é preciso descrever os processos mentais que Freud (1923) denomina como: id, ego e superego.
Segundo Freud (1923), o id é regido pelo princípio do prazer, faz parte do inconsciente e está presente desde o nascimento, carrega consigo a herança genética dos desejos e impulsos, o que Freud (1982) denomina de “pulsões”.
O Ego procura sempre satisfazer os desejos do id, contudo é regido pelo “princípio da realidade”. Ele esta sempre articulando entre os desejos do id e a repressão do superego. Procura uma solução harmônica, que satisfaça o id e não ultrapasse as exigências do superego. Sempre racionalizando, se ceder aos impulsos do id, “torna-se imoral e destrutivo”; se acatar ao Superego será infeliz e eternamente insatisfeito; e ao se deparar com a realidade do mundo, sabe que ceder a ela, “será destruído por ela”, assim gera uma angústia existencial. 
O superego, é inconsciente,  ligado aos valores morais tratando de censurar os desejos do id, é o “órgão de repressão”. Constitui-se entre os seis e sete anos de idade e o início da puberdade ou adolescência formando a “nossa personalidade moral e social.” Cabe ressaltar a importância da educação  familiar e o ambiente social em que a criança se desenvolve pois eles serão a base para a formação do superego.
            Esta dinâmica ocorre desde o nascimento, assim Freud com sua Teoria Sexual Infantil, demonstra que nada ocorre por acaso na psique, estamos sempre, mesmo que inconsciente respondendo a articulação entre o id, ego e superego. Somos constituídos pelos desejos inatos e sua repressão, diante da realidade moral.
Nunes (2000), afirma que as contribuições de Freud são as mais adequadas para uma abordagem científica do desenvolvimento infantil, como saberes necessários para a percepção da importância e da complexidade da formação do sentido sexual da criança. Desta forma, Freud estabelece cinco fases que seriam universalmente vivenciadas, diferenciadas apenas pelos órgãos e objetos pelos quais a criança sente prazer.
Fase Oral (0 a 2 anos)
Nesta fase a criança tem a boca como fonte de prazer, ela encontra satisfação em todas as atividades orais: morder, sorrir, chorar, sugar. Freud (1982) apud Nunes (2000, p.) afirma que “estas atividades são primariamente sensoriais e que a satisfação encontrada nesta ação cristaliza-se a partir da “libido”, entendida como energia psíquica que perpassa toda a educação social da criança.”  Assim, a libido se concentra em torno da zona oral, ou seja, a necessidade e o prazer concentram-se em torno dos lábios, língua e posteriormente nos dentes.
A boca é a primeira área do corpo onde o bebê concentra sua libido e pode controlá-la. O seio da mãe é o primeiro objeto de ligação afetiva infantil. Ao crescer ele vai desenvolvendo outras áreas do corpo que também passarão a serem regiões de prazer e satisfação, contudo os prazeres orais poderão ser mantidos como: comer, chupar, morder, lamber ou beijar que são expressões físicas prazerosas que as pessoas continuam mantendo.
Vale lembrar que, muitas pessoas ainda focalizam o prazer na boca, ou seja, o prazer oral estende para a vida toda em alguns casos pode ser considerado patológico, como em pessoas que fumam, que mordem constantemente os lábios, chupam o dedo, já que são formas que encontram para aliviar  tensões que continuam centralizado no prazer oral.
Estas pessoas trazem consigo essa fixação pelo prazer oral por não terem atingido uma maturidade psicológica para superar essa fase e isto acontece por diversos motivos: sarcasmos dos adultos, arrancarem o alimento de sua boca entre outros que poderão impedir que o desenvolvimento da fase oral se complete. E este, se dá junto como final da amamentação, embora inconsciente, o ego começa a se estruturar a partir dessa superação.
A partir da dentição surge outra etapa chamada oral canibalística, em que a criança morde o seio que indica o surgimento da agressividade. É o momento em que o bebê evidencia frustração, angústia, dor, ansiedade e impotência, sendo estes, sensações e sentimentos necessários para o seu amadurecimento.
A fase oral se dá também através da sucção e da mordida. A fase da mordida é quando a criança morde, destrói e até mesmo tritura um objeto antes de incorporá-lo. Esta fase envolve duas características centrais, uma denominada oral receptiva, que ocorre quando a criança passa por privações, seja de carinho, de atenção, amamentação, alimento entre outros que contribui para que a criança se torne uma pessoa afetiva, generosa.
Outra característica é a fase denominada oral agressiva, quando a criança passa a ter sentimentos negativos, de raiva, destruição, ciúmes, insatisfação com o que tem e passa a desejar que os outros também não tenham as mesmas coisas, ainda que não queiram para si. Tais características podem acompanhar uma pessoa para a vida toda, é como se a pessoa quisesse se vingar das privações, insatisfações e frustrações que esse período lhe provocou.
Como nesta fase a libido se concentra na boca, a mordida para a criança é uma maneira prazerosa de interagir como mundo e descobrir partes deste mundo. Por essa razão é comum nas escolas de educação infantil, as crianças em torno de dois anos de idade morderem outras. Ao morder um amigo a criança vai descobrindo outras sensações de prazer ao observarem o choro do outro, o medo, o susto, entretanto esse prazer pode virar um hábito se não forem estabelecidos limites e orientados adequadamente.
É importante ressaltar que as famílias com algumas atitudes, inconscientemente, causam comportamentos agressivos na criança, como por exemplo, ao “brincarem de morder” como forma de carinho, as crianças ainda não possuem domínio da força da mandíbula e acabam por machucar outras, sem falar que ainda não aprenderam dominar seus impulsos, nem discernir  o certo do errado. Assim torna-se imprescindível estabelecer limites, para que a criança não sinta prazer em machucar outras, pois aos poucos ela se desenvolve e descobre outras formas de sentir prazer.
A vida e a sexualidade estão intrinsecamente ligadas ao prazer, e a forma como podemos sentir prazer pela vida é nos descobrirmos e utilizando os prazeres que já existem no nosso próprio corpo, além de outros. (Bonfim, 2010, Online).
Como aponta Nunes e Silva (2000, p.52), “reprimir a sexualidade da criança é reprimir seu corpo, que se constitui na base real do seu próprio ser, sua relação consigo mesma e sua personalidade. Porque afinal, não existe uma separação entre sexualidade infantil e sexualidade adulta. Existe sim uma ligação única e uma continuidade entre elas, ou seja, são inseparáveis e conseqüentes”.

Fase Anal (2 a 4 anos)
            Nesta fase, a criança retira parte da libido que antes se concentrava na boca e divide com a zona erógena da fase anal.
            Contudo, quando a pessoa não consegue completar a fazer anal, ela ainda permanece com a energia libidinal na zona oral, o que se denomina fixação. Isto ocorre quando alguma situação traumática ocorre durante a fase a qual a pessoa fica fixada. Esta fixação pode desenvolver diversos transtornos como anorexia e bulimia, comer em demasia, fumar, preferir sexo oral, quando adulta ser verbalmente agressiva, entres outras questões. Por essa razão é de suma importância orientar a criança, apoiá-la e dar o carinho necessário para que complete suas fases.
Na fase anal, a criança aprende a controlar os esfíncteres anais e a bexiga, ela sente prazer em produzir as fezes e a urina, a zona de maior satisfação é a região do ânus
            Este período é um momento de autodescoberta corporal. Ao controlar a micção e a evacuação a criança descobre uma nova fonte de prazer e gratificação, recebe muita atenção e elogios dos pais e das demais pessoas com quem convive, ao cumprir as exigências de higiene e padronizar suas necessidades fisiológicas.
            Segundo Freud, esta fase pode marcar o comportamento sexual da criança dependendo da forma como foi vivenciada. Pode ser frustrante para a criança as contradições mentais que ocorre, pois primeiramente ela recebe  elogios e gratificações por terem cumprido adequadamente suas necessidades fisiológicas e por outro lado a repugnação dos pais de que as fezes e a urina são sujos.
            A criança ainda não reconhece seus órgãos genitais, principalmente a menina, apenas o órgão genital masculino começa a ser descoberto.
Esta fase é marca também pela “fase das birras”, além de gostarem muito de brincarem de massinhas e alimentar-se de coisas cremosas.
            No final desta fase, a criança já amadurecida possui uma primeira noção do que é dela e do que é do outro.

Fase Fálica
            A Fase Fálica segundo Freud ocorre aproximadamente dos 3 aos 6 anos de idade e a palavra falo significa pênis. Essa fase é o período em que ocorre a descoberta pelos meninos e meninas dos órgãos sexuais, levando-os a reconhecer a existência das diferenças genitais, e é também o momento em que as crianças começam a manipular as suas genitálias, percebendo que o ato de se tocar nessa região, pode lhe proporcionar prazer.

Complexo de Édipo
            Segundo Freud (1923, p.19)  acontece quando o menino com referência  à fase oral, tem a  mãe como seu primeiro objeto sexual , justamente porque isso ocorre na fase fálica, onde há a descoberta do órgão genital e do prazer, que pode ser satisfeito com o sexo oposto, onde a figura mais próxima é a mãe . E o  afeto pelo pai,  que  se constitui em sua identificação com a figura paterna, se desenvolvem simultaneamente.  Ambos sentimentos caminham juntos, contudo, em determinado momento o pai torna-se um empecilho aos seus desejos sexuais que se acentuam pela mãe. “Sua identificação com o pai assume então uma coloração hostil e transforma-se num desejo de livrar-se dele, afim de ocupar o seu lugar junto à mãe”.
            Segundo Bonfim (Online), esta é uma fase complicada, porque o menino se vê dividido entre o sentimento pela mãe, mas ao mesmo tempo possui uma necessidade do carinho e afeto do pai, seu rival. Contudo, a criança acaba por perceber que a mãe possui outro “objeto de desejo”, que é o pai. Cabe então a ele, intermediar e fazer a ruptura para que a situação se esclareça e é normalmente onde ocorrem os primeiros conflitos entre pai e filho. Neste instante é importante a figura de um pai amoroso, presente, que torne a vida familiar harmoniosa. “É um momento de construção da identidade masculina do menino, na formação da sua personalidade.” Pode-se dizer que, o desejo pela  mãe surge do id  é reprimido pelo superego e regulado pelo ego. Sempre que esse processo acontecer em um ambiente bem equilibrado, com respeito, carinho e amor, entre, pais, filhos, enfim, entre a família, a ruptura pode ser feita por outra figura masculina, na ausência do pai ou mesmo pela mãe, quando os papéis são invertidos, “o pai ocupa um papel feminino e a mãe um papel masculino.” Porém quando a relação do casal não é harmoniosa, sem afeto, acontece o Complexo de Édipo disfuncional, o homem não se torna um referencial para a criança, e a mãe por carência afetiva, elege o filho como companheiro e o pai não faz a ruptura, porque não se importa com a relação. Isso pode fazer com que o menino tenha dificuldades de se relacionar com outras mulheres, ou  passe a procurar a figura da mãe em suas companheiras.

Complexo de Electra
            Ainda considerando Bonfim (Online), nesta fase  a menina tem para com sua mãe seus primeiros impulsos sexuais, contudo, como ela entende que não possui pênis e relaciona a culpa desse fato a mãe, despertando assim o sentimento de castração, direciona para o pai seu afeto, que passa a ser o segunda causa de seus  impulsos sexuais. Assim ela deseja o pai e vê na mãe sua maior rival. Se a família for equilibrada, com relações de afeto, a mãe fará a ruptura, o que causa conflitos entre ela e a filha, mas que com dialogo e amor acabam por se resolver, com a filha de identificando com a mãe. Contudo, quando a relação do casal é desequilibrada, a mãe não faz a ruptura, a menina continua desejando o pai, acreditando até estar casada com ele. Poderá relacionar-se com homens mais velhos e  até tornar-se homossexual na busca daquela mãe que não teve. Quando a mãe exerce o papel masculino dentro de uma relação saudável, não ocorrerá maiores problemas, ela mesmo faz a ruptura e a filha acaba se identificando com ela, podendo mais tarde buscar homens para seu relacionamento, que sejam parecidos com a pai.

Período de Latência
            No período de latência que ocorre após a fase fálica, e acontece aproximadamente dos 6 aos 10 anos de idade, os meninos e meninas apresentam uma mudança em suas relações afetiva que até no momento estavam voltadas para os pais, transferindo  as suas energias em relações voltadas ao social, esportivo e intelectual.
            A palavra latência significa estado do que se acha encoberto, incógnito, não manifesto, adormecido.
            Nesse período a criança transfere a sua energia para o fortalecimento do seu ego e para o desenvolvimento do superego, e o impulso sexual apresentado pelas crianças nas fases anteriores sofre uma diminuição, e a libido passa por um período de adormecimento.
            A criança passa por transformações, e começa a ter novos referenciais de identidade, ela foca as suas energias na retomadas atividades intelectuais e sociais, o que contribui para a diferenciação dos papéis sociais e sexuais.
            É possível que se fortaleça o vínculo de amizade entre crianças do mesmo sexo, formando os chamados clube da “Luluzinha e clube do “Bolinha”.
            No momento em que a criança passa a compreender os valores e as condições que fazem parte da construção histórica e advém de uma sociedade totalmente machista, e os papéis sexuais que nos foram impostos pela sociedade, iniciam-se as brincadeiras de casinha como “Papai” e “Mamãe”, o que leva a um reforço do papel sexual de cada um.
            Chauí (1984, p.9) afirma que a repressão sexual pode ser entendida como “um conjunto de interdições, permissões, valores, regras estabelecidas histórica e culturalmente para controlar o exercício da sexualidade”.
            Faz-se necessário que a criança passe por essa fase de forma completa, para que ela não carregue consigo nenhuma experiência negativa, o que lhe permitirá transferir as suas energias em atividades e relações que surgirão futuramente.

            Fase Genital
            A Fase Genital inicia-se aproximadamente por volta dos 10 anos de idade, trazendo consigo transformações e mudanças corporais, biológicas e afetivo-sociais.
            Antes de iniciarmos é importante destacarmos a diferença entre a puberdade e adolescência. A puberdade é a etapa que o individuo passa por mudanças fisiológicas e a adolescência é o período que o individuo começa o processo de amadurecimento, o que se inicia com a puberdade e prolonga-se até que se alcance a maturidade física e mental, o que acarreta em mudanças fisiológicas, psicológicas, afetivas, emocionais e sociais.
            Essa fase que ocorre com o início da puberdade e da adolescência, provoca mudanças no chamado objeto de desejo, que já não está mais voltado para o próprio corpo, mas para o corpo do outro.
            Nesse período ocorre um processo de maturidade psíquica importante para que a criança possa compreender e aceitar a sua sexualidade, e ocorre também uma maturação sexual  que acarreta em mudanças corporais significativa tanto para as meninas quanto para os meninos.
            Hebert (1994,18) considera que “a adolescência começa na biologia e termina na cultura,  naquela função onde o menino e menina atingirão razoável grau de independência psicológica em relação aos pais e à sociedade”.
Concordamos com as palavras de Nunes (2000, p.129), “só pode falar da sexualidade humana aqueles que sabem nutrir esperanças de amor, em suas plurívocas manifestações”.
            Torna-se essencial, que pais e educadores, com base em uma educação sexual emancipatória, que segundo Nunes (2000, p.17) “é entendida como a formação para a compreensão plena, integral, histórica, ética, estética e psicossocialmente significa e consciente das potencialidades sexuais humanas e sua vivência subjetiva e socialmente responsável e realizadora”, estejam preparados para enfrentar as fases que as crianças terão que passar, e as suas mudanças corporais, biológicas e afetivo sexuais, se posicionando de forma compreensiva, tranquila e não repressiva, levando em consideração que  a forma como será vivenciada cada fase refletirá no equilíbrio emocional e na vivencia de uma sexualidade  emancipatória na vida adulta.

6. Conclusão

            Com base nessas explanações conclui-se que, a partir de Freud a sexualidade passou a ser compreendida como parte integral do ser humano.  Deixou de ser reduzida ao ato sexual, meramente biológico,  para fazer parte da afetividade, da relação com o outro de um sistema racional correspondente a complexidade humana.
            Seus estudos tornaram-se imprescindíveis para esclarecer e compreender as fases do desenvolvimento psicossexual da criança, tendo em vista que a superação sem repressões das mesmas, irá propiciar na idade adulta uma vivência saudável, prazerosa e qualitativa de sua sexualidade, ou seja, uma sexualidade emancipatória.
            A referência de Freud passa a ser um estímulo no aprofundamento na temática da sexualidade humana em suas múltiplas manifestações culturais e subjetivas. Pois podemos observar no decorrer da história, como o meio social influenciou direta ou indiretamente o comportamento. Como também as experiências vividas em cada época e como situações de constrangimentos e sofrimentos ficaram gravadas no inconsciente, que futuramente se manifestaram de maneiras adversas. Desta forma reafirmamos a importância do conhecimento das teorias de Freud, especialmente as fases do desenvolvimento psicossexual da criança.

REFERÊNCIAS

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BONFIM, Cláudia Ramos de Souza. Educação Sexual e Formação de Professores de Ciências Biológicas: contradições, limites e possibilidades. Tese de Doutorado. Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação. Campinas, SP:  Unicamp, 2009.

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CECARELLI, Paulo Roberto.  Sexualidade e preconceito: in: Revista Latinoamericana  de Psicopatologia Fundamental. São Paulo: III, 3, 18-37, Setembro, 2000.

CHAUÍ, Marilena. Repressão sexual: essa nossa (des)conhecida. 6 ed. São Paulo: Brasiliense, 1984.
FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade: A vontade de saber. Rio de Janeiro, RJ: Edições Graal Ltda, 1999.
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