domingo, 15 de julho de 2012

Resenha sobre a formação do autoconceito e da autoestima em crianças institucionalizadas do livro Psicologia Jurídica


DESENVOLVIMENTO DE CRIANÇAS INSTITUCIONALIZADAS:
AUTOCONCEITO E AUTOESTIMA

OYAMADA, Isabella Natsumi
Acadêmica do Curso de Direito
Faculdade de Ensino Superior Dom Bosco
Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação e Sexualidade - FDB
Coordenadora/Orientadora: Profª Dra Cláudia Bonfim

  

PEREIRA, V. C. dos S.; ZANONI, D.; MOSER, A. M. Formação do autoconceito e da auto-estima em crianças institucionalizadas. In: CARVALHO, M. C. N. de; MIRANDA, V. R. (orgs.). Psicologia Jurídica. Curitiba: Juruá, 2009.

Estaremos resenhando um artigo do livro intitulado Psicologia Jurídica que possui 287 páginas. O livro tem como organizadoras Maria Cristina Neiva Carvalho – Psicóloga; Mestra em Psicologia da Infância e Adolescência – UFPR; Professora do curso de Psicologia – PUCPR; Coordenadora, Professora e Orientadora de Monografias do curso de Especialização em Psicologia Jurídica – PUCPR e Vera Regina Miranda – Psicóloga; Mestra em Psicologia da Infância e Adolescência – UFPR; Professora do curso de Psicologia – PUCPR, e da Unicenp; Professora e Orientadora de Monografias do curso de Especialização – PUCPR.
Os autores do artigo resenhado, intitulado “Formação do autoconceito e da auto-estima em crianças institucionalizadas”, que possui 18 páginas (p. 43-60), são Vanessa Cristina dos Santos Pereira, Décio Zanon e Ana Maria Moser. Vanessa Cristina dos Santos Pereira é Psicóloga; Especialista em Psicologia Jurídica – PUCPR. Ana Maria Moser é Psicóloga; Doutora em Psicologia Experimental – USP; Professora do curso de Psicologia- PUCPR; Orientadora de Monografias do curso de Especialização em Psicologia Jurídica – PUCPR. Décio Zanoni é Psicólogo; Mestre em Psicologia da Infância e Adolescência – UFPR; Professor do curso d Psicologia – PUCPR; Orientador de Monografias do curso de Especialização em Psicologia Jurídica – PUCPR.

O artigo trata de questões relativas à formação do autoconceito e da autoestima de crianças institucionalizadas. Valores que não são inatos pois se constroem ao longo do desenvolvimento e, por isso, devem sempre ser analisados sob uma perspectiva social. A importância deste trabalho se verifica diante da necessidade de identificar quais as influencias a institucionalização tem sobre a formação do autoconceito e da autoestima em crianças e adolescentes em situação de internamento.
Sobre o desenvolvimento humano, os autores citam duas influencias: a hereditariedade, ou seja, a herança genética inata que os indivíduos recebem de seus pais biológicos; e o ambiente externo que se materializa no mundo fora da pessoa. Os autores falam da importância do desenvolvimento físico da criança pois este estabelece o tipo de interação que terá e os sentimentos sobre seu próprio corpo. Por exemplo, do nascimento aos 18 meses é a fase do desenvolvimento da confiança; de um e meio a três anos, se resume na autonomia e contraposição à vergonha e a dúvida – é importante destacar a importância, nesta idade, da relação entre as crianças e seu cuidadores; de dois a sete anos as crianças refletem sobre pessoas lugares e eventos; dos 6 aos 12 anos a criança é influenciada pelo ambiente escolar.
Os autores citam o psicólogo Rogers que define o autoconceito como um “padrão organizado, consistente, de características peculiares do eu ou de mim”, ou seja, é a nossa imagem de nós mesmos que determina nossos sentimentos sobre nós mesmos e traça a diretriz das nossas ações. É importante destacar a contribuição do autoconceito para o desenvolvimento da personalidade, pois este não é inato, se desenvolve e evolui.
A diferença da autoestima é que esta envolve a avaliação a partir do autoconceito, as crianças atribuem valores positivos e negativos a seus próprios atributos. A autoestima positiva como citam os autores “funciona como se, na realidade, fosse o sistema imunológico da consciência” (PEREIRA; ZAZONI; MOSER, 2009, p. 51). Já a negativa é influenciada pelo desejo de evitar a dor mais do que vivenciar o prazer. É mister ressaltar que os fatores negativos têm sobre o individuo mais influencia do que os negativos. Esse desenvolvimento deve ser analisado de acordo com a perspectiva social, então, a autoestima de uma criança está intimamente ligada e vinculada ao tipo de relação que tiverem com seus pais, ou adultos importantes na sua vida – cuidadores.
Para relacionar as influencias da institucionalização com os conceitos mencionados anteriormente, os autores conceituam e expõem a finalidade da institucionalização, para isso citam Goffman que define institucionalização total como “um local de residência e trabalho onde um grande número de indivíduos com situação semelhante, separados da sociedade mais ampla por considerável período de tempo, levam uma vida fechada e formalmente administrada”, o motivo e o momento em que ocorre a institucionalização é irrelevante, uma vez que ocorre há uma ruptura.
Não importa, no caso da institucionalização, a história de vida, os valores e crenças do indivíduo, quando este é institucionalizado estes fatores que contribuem para o desenvolvimento são abandonados para que se possa assimilar novas regras e valores oriundos da institucionalização. Mesmo que o Brasil tenha sido um dos pioneiros na elaboração de leis específicas para a criança e o adolescente, existem aqui, milhares de crianças institucionalizadas. O uso da internação, é considerado, expressamente, como ultimo recurso, porém, não é o que se verifica. A ruptura dos laços afetivos traz graves consequências para o desenvolvimento da criança, a dor provocada faz com que tema o apego humano, por considerá-lo um “investimento perigoso” e assimila as relações com a falta de confiança.
Diante dessas considerações os autores questionam o processo de formação do autoconceito e da autoestima de crianças institucionalizadas, tendo em vista que nas instituições há, sem dúvida, a privação das relações sociais, já que os internos são privados de sua liberdade e do relacionamento, isto é, a criança é privada de observar os outros e consequentemente de se auto-observar, além de sofrer ao ser rotulada ao retornar ao ambiente escolar. Os dissabores experimentador pela criança institucionalizada faz com que elas acreditem que não são merecedores de felicidade. Outro aspecto importante a ser considerado é que a criança passa a ter o sentimento que só será digna e adequada se o seu comportamento e desempenho for valorizado pelas “regras” do abrigo. Se conclui que nesse ambiente, onde a ausência de individualidade é regra, é grande a possibilidade de que a criança se desenvolva apática e revoltada, com carência afetiva e baixa autoestima, favorecendo a marginalização deste individuo.

Os autores concluem que a atual forma de institucionalização que se funda na proteção arrepia o direito à liberdade e à dignidade da criança e do adolescente. Esta obra não tem como objetivo questionar a necessidade da institucionalização e sim como está se dá e suas consequências. Portanto os autores assim concluem “o tema exposto coloca-se como ponto propulsor para novas reflexões, estudos e investigações sobre o assunto do menor institucionalizado, de tal maneira que se encontre novas possibilidades de atendimento à criança abandonada” (PEREIRA; ZAZONI; MOSER, 2009, p. 60).

 Este artigo foi resultado de uma pesquisa bibliográfica utilizando uma abordagem qualitativa.

A autora tem como referência principalmente os seguintes doutrinadores: Bee, que fala sobre a importância do desenvolvimento das crianças e adolescentes; Papalia, Olds e o psicólogo humanista Rogers, que conceituam autoconceito; Coopersmith e Badren, que conceituam autoestima; e Gollfam que aborda o tema institucionalização.

Os autores abordam o tema com clareza e coerência, o objeto é conciso, o qual busca fazer com que outros pesquisadores explorem o assunto, que é de suma importância para o desenvolvimento da humanidade. Mas, é mister observar que tal obra é mesmo para incentivo à busca de novas pesquisas pois o tema exige um estudo mais aprofundado, com embasamento teórico, legislativo e social, para que se aproxime, então, de uma conclusão mais real e consequentemente buscar a solução para o problema.

Esta obra pode ser indicada ao público em geral, observando a linguagem usual que possibilita o entendimento. É mister destacar a importância do tema para a sociedade que, sem conhecimento de fato sobre o assunto, pode deixar de contribuir para uma significativa melhora do quadro social dessas crianças institucionalizadas. Porém, é um assunto importante a ser estudado por estudantes e pesquisadores das áreas de direito, psicologia, psicologia jurídica e também sobre a sexualidade e a educação sexual.

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